No momento em que as livrarias, redes sociais e supermercados se vêem preenchidos com conversas sobre emagrecimento, produtos light e sementes milagrosas, Francisco José Viegas oferece ao leitor “A dieta ideal” (Quetzal, 2015) que, pesadas bem as coisas – e as calorias -, acaba por ser um livro anti-dieta dos sete costados. O que, diga-se em abono de um estômago feliz, só lhe fica bem.
Aliás, “A dieta ideal” promove o regresso à cozinha anónima – leia-se antes familiar -, “longe da pornografia actual, que reproduz fotografias de comida, em que raras vezes existe comida (os ingredientes, “empratados” a preceito, são pulverizados de verniz, disfarçados de plástico, iluminados ou fabricados artificialmente), exagerando-se nos pormenores e apresentando-os à vista” – da introdução. E, também, o contraponto à necessidade moderna da inventividade, ao aparatoso e ao que é diferente, esquecendo que, muitas das vezes, “queremos apenas um pastel de massa tenra com arroz de pimentos”.
Este é, também, um livro que devolve a arte da culinária – e com isso presta homenagem – a quem dela foi afastada quando o acto de comer deixou de ser “sujo” para passar a ser “in”. Afinal, “as mulheres foram afastadas da cozinha sem um gesto de reconhecimento, depois de séculosdedicados a alimentar seres egoístas e, muitas vezes, indiferentes”.
Para Francisco José Viegas o que importa é a cozinha de família, de partilha – as receitas apresentadas esperam que pelo menos quatro pessoas se sentem à mesa -, atirando com o gourmet e a alta cozinha às urtigas para recuperar os sabores verdadeiros que, provavelmente, povoaram a infância, a adolescência ou alguns amores perdidos do leitor.
Cada receita surge acompanhada de uma fotografia – salvo raras excepções -, a lista dos ingredientes, o modo de preparação e uma pequena história, com tanto de pessoal como de histórico, que prepara o estômago e eleva a alma. São receitas de uma cozinha básica – podem ser cozinhadas por toda a gente – e tradicional, carregadas de duas coisas que Francisco José Viegas diz adorar: hidratos de carbono e maus pensamentos. Querem salivar apenas por uns instantes? Então deliciem-se com esta ementa: Ovos rotos com azeite de trufa; Fritos de grão; Arroz de tomate; Punheta de bacalhau; Quibe; Bucatini all`arrabiata; Keftedes de carne; Arroz de linguado; Feijoada transmontana. Tradicional, deliciosa e não isenta de perigos, eis a dieta ideal servida em louça portuguesa por Francisco Jose Viegas.
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