(Atenção, este texto contém spoilers)
Se há mania literária que tem perdurado dentro e fora da sua geografia, essa mania é o realismo mágico. E esta primeira novela de Andréa Zamorano, brasileira de origem, portuguesa de estado civil, tem quanto baste desse infindável filão: uma ditadura militar, um patriarca poderoso que oscila entre a loucura e a vilania, um fiel e nobre jardineiro, um poeta que irá ser personagem do Roberto Bolano, uma heroína que fala com saguis. E a morte, como elemento estruturante da narrativa.
Ainda assim, há qualquer coisa de insólito neste “A casa das rosas” (Quetzal, 2015). Há qualquer coisa que não é Laura Esquivel nem Isabel Allende nem nada que se pareça. Que prende e arrepia. Há aqui, nestas páginas, qualquer coisa de sinistro, que dá comichão e levanta o cabelo.
É que Andréa Zamorano vai buscar a Córtazar e a Borges, mais do que a outros mestres mais óbvios da literatura sul-americana, as referências para uma arquitectura elíptica e surpreendente, onde encontra a sua identidade de contadora de histórias. A essa virtude, soma a autora um óbvio talento para discursos interiores mais ou menos caledescópicos, mais ou menos fantasmagóricos, que exercem sobre o leitor uma espécie de exorcismo.
E se podemos, aqui e ali, questionar a direcção em que somos movidos por Andréa Zamorano, a verdade é que as últimas 20 páginas do seu iniciático romance são verdadeiramente alucinantes e dão direito à revelação de um cadáver emparedado e à antecipação do grande terramoto da Cidade do México. Não está nada mal, para começar.
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