Ao fim de dezassete anos de Correntes d`Escritas, o Deus Me Livro marcou finalmente presença, pela primeira vez, naquele que é o mais importante festival literário português – isto 20 meses após o lançamento do projecto. Não temos, assim, forma de comparar esta edição com as anteriores, pelo que o nosso pequeno balanço será feito apenas em relação a esta edição. E que edição.
Usando uma expressão de cariz popular, apetece dizer que as Correntes não andam, deslizam. Entre dezenas de escritores, convidados e jornalistas, somando a tudo isto o muito público que comparece religiosamente para ouvir falar de Literatura, é estranho não ver, da parte da organização e de quem por lá anda em missão, qualquer ponta de nervosismo ou mau feitio. A organização é impecável, o acolhimento cinco estrelas, a resolução de problemas parece estar a cargo de entendidos da matemática que não se deixam intimidar por qualquer fracção de aspecto mais manhoso.
Quanto à programação, sempre montada no eixo ibérico-lusófono, trouxe algumas mesas que valeram por si, desde o silêncio dos livros contado por Tolentino Mendonça ao relato de uma impostura confessado por Javier Cercas – o vencedor do prémio Casino da Póvoa/Correntes d`Escritas deste ano.
Apesar de sermos fãs do método que o FOLIO trouxe a Óbidos , em que as perguntas são feitas por escrito e escolhidas pelos moderadores das mesas para evitar a bandalheira e a dispersão, não deixou de ser curioso ouvir algumas das intervenções, como aquela em que alguém perguntou se isso de escrever não era só álcool e drogas. Ou, como não podia deixar de ser, o clássico “isto não é bem uma pergunta”, ouvido vezes sem conta para desespero dos moderadores e sorrisos do público.
Chegamos agora aquela parte onde falamos daquilo que poderá melhor para a próxima edição. Pois bem, para além de umas festas temáticas pós mesas nocturnas, que aliasse a palavra escrita ao frémito da música, seria bom alargar as mesas em formato entrevista, que resultam na perfeição para melhor entender o escritor, as suas obras e aquilo que o move.
Em termos gerais a 17ª edição das Correntes d`Escritas foi um sucesso, bem como um exemplo maior de boa organização que, aqui, passa pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim. Em 2017, no ano em que as Correntes chegam à idade maior, esperamos estar de volta para fazer a festa. E contar como foi.
Recordem aqui a passagem do Deus Me Livro pelas Correntes, ou então revejam a galeria fotográfica.
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