Por muitos defensores e antagonistas que a causa consiga reunir, há um facto indesmentível a partir do momento em que os portugueses construíram caravelas e naus, se fizeram ao mar e começaram uma louca jornadas de conquistas que teve início com a tomada de Ceuta, corria então o ano de 1415. A partir daí, Portugal estabeleceria rapidamente o primeiro império marítimo à escala global o que, no mundo dos jogos de tabuleiro, é como ter inventado a Batalha Naval.
Ao mesmo tempo que consolidava espaços de presença territorial – como no Brasil ou no norte de África -, Portugal agia sobre a sociedade, a economia, a cultura e as instituições em terra alheia, acabando por se ligar umbilicalmente a esses territórios numa relação de amor e ódio que criou raízes e se mantém viva nos dias de hoje.
Com direcção de Francisco Contente Domingues, o “ Dicionário da expansão portuguesa 1415-1600 – Volume 1: De A a H ” (Círculo de Leitores, 2016) cobre o período inicial da expansão portuguesa, de Ceuta à criação das companhias comerciais europeias (a East India Company, em 1600, logo seguida pela Voc – Vereenidge Oost-Indische Compagnie, em 1602) que, do século XVII em diante, expandiram significativamente a navegação e o comércio ultramarino.
O dicionário reúne entradas de 79 autores de nove países, pertencentes a 35 instituições universitárias e de investigação, num total de cerca de 390 artigos. A opção editorial recaiu na escolha criteriosa dos temas, com textos que ultrapassam o que normalmente se lê em dicionários históricos e que se dedicam a áreas como a arte, a guerra, a sociedade, as moedas, a gastronomia ou a medicina.
Optou-se também, nesta edição, por um agrupamento daquilo que poderia ter sido apresentado como pequenas entradas. O astrolábio e o quadrante, por exemplo, estão reunidos num pequeno artigo escrito sobre os instrumentos de navegação.
O ponto de partida para a leitura e exploração deste dicionário – o seu mapa, se quiserem – será sempre o índice temático dos artigos, fundamental para se compreender a lógica de organização e os dois níveis de leitura: por um lado, a consulta usual de um determinado tema, seguindo a ordem alfabética; por outro, a leitura consecutiva dos índices temáticos, procurando no dicionário as entradas temáticas que existem para cada um dos capítulos – para se ficar com uma ideia mais concreta e global de cultura e ciência deste período, por exemplo, deverão ler-se artigos como “Carta de Pero Vaz de Caminha”, “Medicina”, Imprensa, “Gastronomia” ou “Universidade”.
No prefácio, Francisco Contente Rodrigues – responsável pela direcção deste Dicionário” – diz não ter havido qualquer “compaginação doutrinal” nesta obra, pelo que nele se encontrará uma grande diversidade interpretativa – e também opinativa, acrescentamos nós. Há fotografias, gravuras, mapas e uma bibliografia detalhada para cada um dos artigos, terminando este primeiro volume na letra H – e, curiosamente, em Humanismo. O que, num tema que ainda consegue gerar alguma discussão, não deixa de ser irónico. Mais um documento fundamental para quem quer saber mais sobre aquele que foi o período mais ambicioso da história portuguesa, seja qual for a ideia individual que cada um guarde dos Descobrimentos.
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