Um leitor compulsivo (ou entusiasmado) de policiais e thrillers parece actualmente ter-se transformado num habitante da Escandinávia. Uma boa percentagem da literatura desse género apresenta-nos os cenários, os hábitos e as apreensões dos habitantes do Norte da Europa.
Assim, “Vestido para a morte” (Planeta, 2014), a terceira obra de Donna Leon – editado em 1994 e no presente ano em Portugal pela Planeta -, dá-nos o prazer de vivermos no “nosso” Sul, do reconhecimento dos códigos socio-morais, do clima e da cozinha mediterrânica.
A acção decorre em Veneza, durante as férias do “Ferragosto”, altura do ano em que os venezianos abandonam a cidade, o calor e a humidade insuportáveis, e os turistas povoam a mesma (ainda mais) sem que as condições adversas do clima e ambiente os afastem do seu propósito de estar umas horas/dias numa das mais famosas cidades do planeta.
Tudo começa com um corpo irreconhecível encontrado numa zona de prostituição, com a particularidade de parecer ser um travesti. A investigação é da competência de Guido Brunetti, um veneziano de alma e corpo. Mais uma vez também aqui se quebra a tradição: o comissário não é um homem amargurado até ao tutano, mas sim um italiano bem casado, pai de dois filhos e apreciador de boa comida e bebida.
No decurso da acção convivemos com o quotidiano veneziano, dos vaporettos, lanchas e gôndolas, mas também com os bem guardados segredos de alguns notáveis da cidade, dos meios da alta finança, justiça e de uma organização ligada à igreja católica, que nos mostram a realidade sempre supreendente da intimidade de cada um.
“Vestido para a morte” flui com interesse mas sem grande sobressalto. Digamos que é fácil sentirmo-nos em Veneza e acompanharmos Guido Brunneti, mas assistimos de forma tranquila ao curso da trama.
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