“Nunca acreditei no horóscopo. Sabem porquê? Porque te diz que estás a viver um período favorável, dá-te três estrelinhas na saúde, no dinheiro e no amor, quando na realidade te sentes um trapo velho, o teu namorado acaba de te deixar e corres o risco de perder o emprego.”
O amor é provavelmente o tema mais inesgotável e mais actual em qualquer tipo de arte, capaz de viajar pelos tempos e de se manifestar na música, no cinema e na literatura, criando um ciclo vicioso e confortável ao ser humano. Todo o tipo de mau amor, o que quebra os corações e provoca mágoas, desperta curiosidade. Os olhares alheios têm mais tendência a olhar para os corações partidos ou para uma história de vida cheia de sofrimento, ao invés de olhar para a felicidade. Exemplos não faltam, como era de esperar: como seriam as canções de Adele e os números de vendas se não tivesse sofrido pelo menos um desgosto de amor? Seria “21” um sucesso se falasse sobre experienciar a felicidade? Será que Bridget Jones conseguiria ser tão conhecida se não tivesse tanto azar no campo amoroso? Conseguiria Elizabeth Gilbert largar tudo se não estivesse tão infeliz no seu casamento e estaria “Comer, Orar, Amar” na lista dos livros mais vendidos?
Alice pode ser, aos olhos das outras pessoas, uma mulher italiana com sucesso: trabalha na produção de um canal de televisão em Milão, tem a sua casa e os seus verdadeiros amigos ao seu lado. Mas falta-lhe o que quase todas as mulheres ambicionam: o amor. Um homem que realize os seus sonhos e que a faça sentir-se amada. “Guia Astrológico para Corações Partidos” (Suma de Letras, 2015) poderia ser só mais uma história “cor-de-rosa” nas estantes, mas há algo que distingue esta protagonista: a influência da astrologia nas suas aventuras. Ao conhecer Tio, o seu melhor amigo, os mapas astrais dos candidatos ao seu coração começam a fazer parte das suas escolhas. Nunca os planetas tiveram tanta influência para Alice e, eventualmente, tudo começa a fazer sentido: todas as suas trapalhadas acabam por estar ligadas às más escolhas em relação ao horóscopo. Ao longo da história, gargalhadas não vão faltar aos leitores.
Com este “Guia Astrológico para Corações Partidos”, Silvia Zucca dá a conhecer um mundo leve e divertido, passado nas ruas de Milão e de Paris. Apesar de alguns livros servirem para quebrar barreiras ou para fazerem história, todos têm uma base comum: o entretenimento. E é a entreter que a obra de estreia de Silvia Zucca se destaca. Não importa se o dia é soalheiro ou cinzento, se está num café ou em casa: o leitor vive as peripécias de Alice como se estivesse ao seu lado, pronto para a ajudar ou para a avisar das desastrosas escolhas amorosas. Aliado à leveza e ao enredo simples está uma profunda investigação astrológica: a forma como os mapas astrais dos signos e a influência dos planetas determinam o comportamento das personagens, entre tantos outros aspectos colocados ao longo do livro.
O único ponto negativo é a contínua desgraça de Alice no campo romântico. Quando tudo podia dar certo e a escolha correcta estava à sua frente, Silvia Zucca decide levar a sua protagonista a cair pelo precipício do amor, provavelmente para dar mais vida às suas personagens. Porém, ao bom estilo de Bridget Jones – agora com um gosto pelas previsões astrológicos -, Alice consegue ser uma personagem verdadeiramente divertida.
Sem Comentários