Um gato e um pato conhecem-se na Festa Outonal dos Animais e, desse furtivo e inesperado encontro, nasce uma improvável mas sentida amizade. É este o mote para “”O Pato Amarelo e o Gato Riscado” (Caminho, 2015), o terceiro livro que nasce de uma parceria entre Manuela Catro Neves, professora do 1º ciclo, e Madalena Matoso, ilustradora e co-fundadora do brilhante Planeta Tangerina.
A partir daí não havia dia em que os dois não se encontrassem para brincar, apesar de ambas as mães, também elas muito diferentes, repetirem sempre a mesma coisa a cada uma das suas crias: “Não vás para longe!” Brincavam ao que as crianças pequenas costumam brincar: faziam corridas, jogavam às escondidas e à apanhada e, por vezes, ao macaquinho do chinês. “Há até quem diga que jogavam às cartas com as folhas caídas dos plátanos“, mas jogos de computador não tinham nem precisavam.
Um dia, enquanto estavam em plena brincadeira, passou por eles um veado que, como um vendedor de rua com muita escola, lhes anunciou uma montra de produtos de fazer um pequeno animal perder a cabeça: “skates para gatos, patins para patos, trotinetes para coelhinhos, e também trotinetes para raposinhos. Baloiços para chibinhos, pranchas para crocodilos, guitarras para esquilos, triciclos para pardais e muitas, muitas coisas mais!“.
Os dois amigos não resistiram ao pregão e seguiram o veado, mas não demorou muito até se perderem na floresta e na chuva grossa que começava a cair. O pato arranjou maneira de guardar o gato debaixo da sua asa, mas um mocho chegou de repente e levantou voo com o pato no bico, uma vez que os pais do pequeno quá quá o tinham encarregue de o levar para casa. Os animais com quem o gatinho se vai cruzando vão tentando ajudar, mas há sempre um compromisso ou outra razão que os vão afastando da missão de levar o pequeno felino para casa. Chegará ele a bom porto?
As ilustrações de Madalena Matoso são um puro deleite: passeiam por aqui animais felizes, em páginas onde abundam os padrões e as cores parecem deixar espaços em branco, inacabados, revelando uma maneira muito própria de mostrar e arrumar os objectos que vão surgindo. Há também uma forma muito peculiar de desenhar a chuva, num traço distintivo que confere ao livro um movimento contínuo. Uma história onde a solidariedade anda de braço dado com o elogio da diferença.
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