No mundo da literatura, um novo género literário parece ter sido fundado pelo americano John Green: o do romance fofinho. Porém, ao contrário das verdadeiras xaropadas servidas por best-sellerianos como Nicholas Sparks, Green parte do universo da adolescência para criar histórias habitadas pelo sentido de humor e pela comoção que, não sendo propriamente candidatas ao Nobel, se revelam bons pedaços de literatura – um desses exemplos será o recomendado “Cidades de Papel”.
Seguidores ou não, a verdade é que muitos têm expandido o universo Greeniano, com títulos que vão chegando a um ritmo alucinante às livrarias nacionais. Um desses exemplos é “Viagem à procura de mim” (Topseller, 2015), do americano David Arnold, que conta a história de uma adolescente de dezasseis anos em vésperas de se confrontar, de caras e a uma velocidade considerável, com o camião da idade adulta.
O retrato de uma adolescência tremida é feito de forma exemplar pela personagem central do livro: “Eu sou a Mary Iris Malone e não estou nada bem. Sou uma colecção de bizarrias, um circo de neurónios e electrões: o meu coração é o mestre de cerimónias, a minha alma é o trapezista, o mundo é o meu público. Soa estranho porque é estranho, e é estranho porque eu sou estranha.”
Mim – como é conhecida – é uma adolescente que teve como herança Cash e Presley e que, nos dias que correm, ouve Bon Iver, Elliott Smith e Arcade Fire, nomes “cuja música exige não só que gostem dela, mas que acreditem nela.” Uma miúda que fala sozinha e a quem o pai, receando ter herdado uma doença familiar, decidiu medicar desde muito cedo.
Após o divórcio dos pais, Mim muda-se para o sul dos Estados Unidos para morar com o pai e a madastra. Ao escutar atrás da porta uma conversa entre estes e o director da escola, Mim percebe que a mãe está muito doente, decidindo fugir de casa para embarcar numa viagem de mais de 1500 Km, de regresso à terra natal e ao conforto dos braços da mãe. Pelo caminho não faltarão os perigos e os desafios, além da incerteza crescente de uma viagem que, a cada quilómetro que fica para trás, é mais um passo na direcção da vida adulta e o desvendar de um passado mal iluminado.
Se há algo que David Arnold nos pretende transmitir é a velha máxima de que a vida é feita de desvios e, sobretudo, de coisas inesperadas. Com humor e muita sensibilidade, partilhamos a odisseia pessoal de Mim, com o bónus de sermos prendados, pelo caminho, com alguns provérbios de origem cherokee, verdadeiramente sábios e exultantes: “Nasceste a chorar enquanto o mundo rejubilava. Vive a vida para morreres a rejubilar enquanto o mundo chora.” Fofinho mas rabino.
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