Após ter lançado a loucura no universo literário infanto-juvenil com “Avozinha Gângster”, a que se seguiu o não menos alucinado “Doutora Tiradentes”, David Walliams está de volta com mais um pedaço de escrita de consumo (felizmente) impróprio para os mais novos: “A terrível Tia Alberta” (Porto Editora, 2015).
Desta vez, a história tem todos os contornos de um conto dos Grimm carregado de negrume. Senão vejamos: a jovem – de 12 anos – Dama Stella Saxby acorda no seu quarto no Palácio de Saxby, mas algo está definitivamente errado. Para além de não haver sinal dos seus pais, a pequena acorda sem conseguir mexer um dedo, enrolada em ligaduras como se fosse uma múmia esquecida. Como se isto não bastasse, ouve um som do outro lado da porta, que cedo se materializa na figura da sua Tia Alberta e do seu animal de estimação, Wagner, um Grande Mocho dos Alpes da Baviera. Sem qualquer consolo, a tia diz-lhe que está em coma há vários meses, e que os seus pais morreram num desastre de automóvel. E que, durante este período, tem sido ela a tomar conta de si, com a ajuda do arrepiante mocho que, de vez em quando, lhe atirava os restos de uma bela lesma ou de uma barata para a boca.
Mas o que tem a Tia Alberta para ter ganho o epíteto de terrível? Pois bem, para além de querer deitar as mãos à herança de Stella, tomando como seu o imenso Palácio, tem características físicas que ajudam à criação de uma monstruosidade: olhos negros vigilantes, botas com biqueira de aço, um rosnado permanente.
O seu grande vício é o Jogo da Pulga – o seu lema é, aliás, “há sempre tempo para o Jogo da Pulga” -, algo que fez com que a família tenha ficado na quase ruína, mantendo como único membro do pessoal um velho mordomo, para lá do surdo, que faz coisas tão disparatadas como servir uma bola de bilhar ao pequeno-almoço no lugar de um ovo cozido, levar a carpete a passear ou regar o sofá.
Após uma primeira fuga falhada, Stella é fechada a sete chaves numa gélida carvoaria, enquanto a tia revira a casa do avesso em busca da escritura da casa, para obrigar, depois, a pequena Stella a passar para as suas mãos a herança do Palácio. Porém, quando o desespero atinge o seu ponto máximo, um rapaz de nome Fuligem surge pela chaminé, prometendo ajudá-la a fugir e, também, a descobrir a verdade sobre o que aconteceu aos seus pais.
O livro é uma vez mais servido em capa dura onde, à escrita desvairada de Walliams, se juntam as ilustrações a preto e branco de Tony Ross, que cumpre com mérito a missão de dar vida a uma narrativa feita de momentos loucos.
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