“Olá. O meu nome é Gastão. Gastão Latife. Pode não parecer, mas sou um menino como qualquer outro. E, para vocês não ficarem logo com uma má impressão, vou começar esta história explicando como vim parar aqui, acorrentado nesta masmorra imunda com um pirilampo apagado e um cão cheio de pulgas. Já os ratos, esses são da casa…”
É desta forma que tem início “O dono da lua” (Verso da História, 2015), a primeira aventura da colecção A vida difícil de Gastão Latife que tem, como personagem principal, uma espécie de anti-herói que se passeia por histórias que, apesar de se situarem no universo de reis e rainhas, de príncipes e princesas, acaba por subvertê-lo com um sorriso nos lábios.
Gastão é um aprendiz de feiticeiro que, após ter incendiado uma ala inteira da escola, é expulso da Grande Escola de Magia, sendo aconselhado a partir para se poder ajudar a si próprio. Desolado inicia a sua viagem, acabando por entrar numa floresta escura, sendo guiado – quase enfeitiçado – pela lua cheia até uma cidade que parecia deserta. Até que, do nada, aparecem dois soldados, que o prendem sem qualquer justificação.
Caberá a um pirilampo falante contar a Gastão a razão de tal intempestiva prisão, que começa com a história de um príncipe mimado, tão mimado que ainda hoje abre presentes do seu 1º aniversário. E que, aos 10 anos, viu os reis nomearem uma junta de fiéis servidores para lhe satisfazerem todos os desejos e caprichos. Na adolescência apaixonou-se pela lua, compondo-lhe os mais arrebatados poemas e, quando chegou a sua vez de mandar, fez um decreto a exigir para si a exclusividade de olhar a lua em noite de lua cheia. Os habitantes começaram por rir-se de tamanha parvoíce, mas quando as prisões se começaram a encher o medo tomou conta de todos os habitantes. Para tentar salvar a pele, Gastão promete ao rei trancar a lua num caldeirão, para que este fique com a lua só para si. Será neste primeiro livro que assistiremos ao nascimento de um improvável trio de saltimbancos: um aprendiz de feiticeiro com cara de rato – perdão, de coelho -, um pirilampo que não dá luz mas fala todas as línguas e um cão dançante.
“A rainha linguaruda” (Verso da História, 2015) passa-se dois meses depois da primeira aventura de Gastão, que entretanto já se tornou famoso um pouco por todos os reinos. Tão famoso que, um dia, um mensageiro de um reino (não tão) distante aparece a pedir ajuda: se não o acompanhasse, a sua rainha faria rolar muitas cabeças. O que dá início a mais uma história verdadeiramente bizarra.
O mensageiro conta a Gastão a quase lenda de um rei muito bondoso e dos seus três filhos. A filha do trio, porém, não era muito dada à bondade, aproveitando cada oportunidade para semear a desconfiança, a inveja e a discórdia entre todos. Até se misturava com o povo só para ir aperfeiçoando a sua arte. Quando o rei morreu, a pequena conseguiu colocar os irmãos um contra o outro, até ficar sozinha a governar o reino. A parte realmente bizarra começa agora, ou no momento em que é visitada por uma fada que lhe lança uma pérfida maldição: “As armas do teu veneno vão crescer cada vez que cuscuvilhares, ó rainha maldita!” Assim, sempre que semeava a intriga, as suas línguas e orelhas ficavam cada vez maiores. Ao ouvir a história de Gastão, do caldeirão e da lua, a rainha julga que poderá ter encontrado um feiticeiro que acabe com esta horrível maldição.
Aproveitando o imaginário infantil dos contos de fadas, Carlos J. Campos criou um jovem herói imaginativo e muito irreverente, que vai escapando à morte certa recorrendo a jogadas de mestre situadas entre o puro acaso e o absoluto génio. A boa notícia é que já está a caminho um novo volume: “A galinha do inferno”. Gastão Latife veio para ficar.
2 Commentários
Ando há muito tempo à procura desse terceiro volume, «A galinha do inferno», pois gostamos imenso dos dois primeiros livros, mas não encontro. Saberá, por ventura, se chegou a ser publicado?
Muito obrigada.
Bom dia Catarina. Penso que não chegou a ter edição portuguesa. O que é uma pena, a série é bem boa.