É uma autora que temos seguido com toda a atenção desde 2016, ano em que chegou às livrarias, com o selo do Planeta Tangerina, “Mana” (ler crítica), obra vencedora da 1ª edição do Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado. Um livro que mostrava uma grande variedade de técnicas, estilos e cores e que contava, em forma de carta e fazendo uso de uma criatividade extrema, a sempre complicada relação entre duas irmãs com poucos anos de diferença.
Depois disso, escrevemos sobre outras preciosidades de Joana Estrela, fosse como autora única – “A Rainha do Norte” (ler crítica), “Pardalita” (ler crítica) e “Miau!” (ler crítica) – ou ilustradora – “Aqui é um Bom Lugar” (ler crítica) e “A Luz é Grande” (ler crítica), com Ana Pessoa; e “Gatálogo” (ler crítica), com Miguel Gouveia. Já em 2024, novamente com o selo Planeta Tangerina, chegou às livrarias “Gato Comum” (Planeta Tangerina, 2024), um dos mais recomendados álbuns ilustrados do ano que, para alguns, trará à lembrança os volumosos álbuns das Páginas Amarelas, entregues a quem tinha um número de telefone fixo impresso algures numa das suas intermináveis páginas.
A protagonista dá pelo nome de Cristina, alguém que olha para o seu nascimento como “o ano zero em relação a todos os eventos”. Tem “17 anos. Exactamente a mesma idade do gato” que está no centro das atenções. Um gato que se chama Manuel por ter sido encontrado por uma pessoa com o mesmo nome, e que se encontra a viver os seus últimos dias.
A partir desta iminente e inevitável perda, Cristina reflecte sobre o acaso da existência e a sua finitude, as escolhas que nos calham num cenário onde o final é igual para todos, as regras de coabitação e os deveres, a família como uma dessas atribuições sem poder de escolha. “Fico a pensar como as famílias são uma coisa tão aleatória. Calhou sermos a família uns dos ouros. Calhou a este gato ser o nosso gato”.
Uma história sobre perda e superação, crescimento e aprendizagem, renovação e transformação, que a meio da viagem – e numa cor alternativa à dominante – nos brinda com um belo interlúdio, onde a mãe de Cristina nos conta a história de Tareco, o maluco gato siamês que um dia o pai trouxe para casa e que, durante uns tempos, fez parte da família.
Joana Estrela escolheu um lettering ao estilo de um diário escrito em maiúsculas, desenhando de forma exemplar os objectos que, em vários momentos, se tornam verdadeiras personagens – como a cafeteira ou as chávenas de chá. Destaque para o jogo entre claro/escuro, que nos faz entrar no quarto de Cristina sentindo o conforto de encontrar a luz ligada. Mais um grande livro de Joana Estrela que se lê como a celebração da existência, a partir de uma vida (e de um gato) comum.
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