Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Sobre os livros
“Metamorfoses” são uma das obras-primas da Antiguidade Clássica, escrita em inícios do século I d.C. ao longo dos séculos, poucos textos suscitaram tão singular fascínio e exerceram tão grande influência, sobretudo nos campos da literatura e das artes plásticas.
Com a sua mestria de contador de histórias e pintor de cenários, aliado à profunda compreensão da fragilidade e da grandeza do ser humano, dos seus sonhos de superação e suas contradições, Ovídio legou-nos episódios imortais, num fluir ininterrupto de histórias dentro de histórias, depois recriados vezes sem conta.
Girando em torno do fenómeno da metamorfose, da mudança, da transformação do universo, do homem, do tempo e do espaço, Midas, Dafne, Polifemo e Galateia, Narciso e Eco, Dédalo e Ícaro, Orfeu e Eurídice, Pigmalião, entre tantos outros, pertencem, agora, à galeria de personagens eternas da cultura Ocidental.
Nora vive o sonho burguês do final do século XIX: casada com um quadro superior num banco, tem 3 filhos e vive uma vida desafogada. No entanto, esconde um segredo que, se descoberto, pode destruir este idílio e atirá-la para as mãos da justiça, condenando assim a família à desgraça. O terror anunciado chegará através de um homem sinistro, impondo uma revolução indesejada, mas inevitável, na vida e na consciência desta mulher.
Levada à cena pela primeira vez em 1879, “Casa de Bonecas” chocou a sociedade da época pela exploração realista que faz do lugar da mulher na sociedade e na família, e pela denúncia da falsa moralidade que lhe é imposta. A discussão em torno da ação transbordou dos palcos para os jornais e salões da época e confirmou Ibsen, obreiro de uma extraordinária modernização do teatro, como um dos dramaturgos mais influentes da literatura ocidental.
Em Novembro de 1919, Franz Kafka escreveu uma extensa missiva dirigida ao pai, Hermann Kafka, na qual expurgava décadas de abusos psicológicos. Esta carta, a mais famosa do século XX, nunca chegou ao destinatário, mas a sua publicação póstuma permitiu a gerações de leitores testemunharem uma história de violência doméstica e a subsequente devastação de um filho às mãos de um pai tirano.
Lúcida e pungente, “Carta ao Pai” é um poderoso exercício de auto-análise e um valioso documento histórico e literário, sem o qual a nossa compreensão da obra de Franz Kafka seria, necessariamente, muito diferente.
Sobre os autores
Públio Ovídio Nasão nasceu em Sulmo, a actual Sulmona, a 20 de março de 43 a.C. Cedo entrou nos meios literários de Roma e se tornou próximo dos melhores poetas de então. Assim teve início o seu percurso pela poesia amorosa e erótica, que o levaria, sucessivamente, a compor as Heróides, a Arte de amar, os Remédios contra o amor, os Tratamentos para a beleza da mulher. Em meio de tão grande sucesso e quando nada o fazia prever, atingiu-o um duro golpe da fortuna, súbito e inesperado: Augusto, em 8 a. C., expulsou-o de Roma e condenou-o ao exílio, em Tomos, nos confins do Império, no atual território da Roménia. E, já em Tomos, foi compondo cartas que tinham por destinatários a esposa, os amigos, a família que em Roma ficara. Organizou-as em duas colectâneas: os Tristes, primeiro, ou, talvez, numa tradução mais fiel, Cantos de tristeza, e, mais tarde, as Cartas do Ponto. Em uma e outra abundam poemas de queixume, de tristeza, um canto doentio e monótono, de quem sente fugir-lhe a inspiração para tudo o mais que não seja a celebração da sua própria dor. A qualidade estética desses poemas tem dividido os estudiosos; seja como for, porém, a verdade é que, com essas coletâneas, Ovídio inaugurou uma nova modalidade de poesia, a que poderíamos, sem exagero, chamar “poética do exílio”.
Henrik Johan Ibsen, dramaturgo, poeta e encenador, nasceu a 20 de Março de 1828 em Skien, na Noruega, numa família da classe média alta, de comerciantes bem-sucedidos. Aos quinze anos, altura em que abandonou os estudos para se tornar aprendiz de farmacêutico na cidade de Grimstad, começou a escrever as primeiras peças. Decide dedicar-se definitivamente à escrita depois de ter falhado os exames para ingressar na Universidade de Cristiânia, actual Oslo. Em 1850, com apenas vinte e dois anos, publica, sob pseudónimo, “Catilina e Túmulo de Guerreiros”. Mudou-se para Bergen, para trabalhar no Det Norske Teater, onde foi responsável pela escrita, encenação e produção de centenas de peças, e, mais tarde, regressou à capital para ocupar o cargo de director criativo do Teatro de Cristiânia. Durante esses anos, continuou a escrever, mas a sua produção não encontrava eco na crítica. Em 1858, casa-se com Suzannah Thorensen, com quem tem um filho, Sigurd. Em 1864, desencantado com o país e pela situação financeira que vivia, abandonou a Noruega e estabeleceu-se em Sorrento, na Itália. Foi aí, no ano seguinte, que escreveu “Brand”, a peça que inaugurou o seu sucesso literário, a que se sucedeu “Peer Gynt”, considerada a sua magnus opus, e para a qual Edvard Grieg compôs a famosa suite homónima. Em 1868, Ibsen, já um dramaturgo reconhecido e estabelecido, então a viver na Alemanha, inaugura a fase realista da sua obra com “Os Pilares da Sociedade” (1877), a que se seguiu “Casa de Bonecas” (1879), peça que lhe granjeou o reconhecimento internacional, e “Um Inimigo do Povo” (1882), uma tríade de dramas sociais que denuncia o moralismo vigente. “Patos Selvagens” (1884), “Rommersholm” (1886) e “Hedda Gabler” (1890) constituem a fase final da produção de Ibsen, considerado um dos dramaturgos mais influentes da literatura ocidental e o autor mais vezes levado à cena desde Shakespeare. Observador atento da sociedade e crítico feroz do moralismo atávico do final do século XIX, antecipou muitas das críticas sociais e controvérsias modernas com um sentido poético singular.
Franz Kafka nasceu em 1883, em Praga, no seio de uma família da pequena burguesia judia de expressão alemã. Começou a escrever os seus primeiros textos em 1904. Em 1906, terminou os seus estudos universitários, doutorando-se em Direito. Em vida, publicou apenas sete pequenos livros e alguns textos em revistas. De entre estes livrinhos e textos, destaca-se “A Metamorfose”, que veio a lume em 1915. Esta pequena novela viria a afirmar-se como uma das suas obras de referência. A 3 de Junho de 1924, não resistindo à tuberculose diagnosticada em 1917, morre em Kierling, a poucos quilómetros de Viena, deixando três romances fragmentários, que seriam publicados postumamente pelo seu amigo e testamenteiro Max Brod: “O Processo” (1925), “O Castelo” (1926) e “América” (1927), a que se seguiram volumes com contos, cartas e diários. A sua obra, centrada no homem solitário moderno, refém de uma vida absurda, tornar-se-ia uma das mais influentes do mundo literário do século xx.
Editora: Penguin Clássicos
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