Comecemos pelo mais importante. Se andam à procura de uma novela gráfica capaz de entusiasmar os mais novos, levando-os a cair nas boas graças da banda desenhada, “Julieta Pirueta” (Nuvem de Letras, 2024) é livro para cumprir o prometido, aliando desenhos expressivos e carregados de cor a uma história cheia de conteúdo.
Com o novo trabalho da mãe, Julieta vê-se perante um cenário pouco animador: obrigada a fazer novos amigos, entrar numa nova escola com o ano em andamento e mudar-se para uma nova casa, sobre a qual não tem uma grande primeira impressão: “Parece um daqueles filmes de terror que o pai costumava ver”.
Na escola todos parecem adorar desporto, o mesmo acontecendo em casa. Perante a inabilidade nata para o voleibol, a mãe atira-lhe com actividades como o ténis ou o tiro com arco, mas a paixão de Julieta mora noutro lado: no ballet, algo que a mãe desaprova por completo. E, se em casa o cenário é pouco animador, na escola é-o ainda menos. Para além das dificuldades em educação física, o que lhe vale um apurado e permanente bullying, sofre um questionamento permanente sobre onde se encontra o seu pai, além de lhe dizerem, de forma insultuosa, que “livros com bonecos são para miúdas do jardim-de-infância”.
Brian Freschi escreveu uma belíssima história sobre o amor-próprio, a amizade e a resiliência filial, mas também sobre a forma como as famílias são uma entidade em constante mudança e reinvenção. Pelo caminho, responde à pergunta que Julieta lança logo no início: “Será possível viver num sítio e não nos sentirmos em casa?”.
Os desenhos de Elena Triolo são um mimo – atente-se, quase a abrir, numa página a três vinhetas, onde acompanhamos a noite de sono – ou insónia – de um trio failiar, cada um numa diferente sintonia emocional. Um excelente livro de iniciação à banda desenhada – está recomendado para M/9.
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