É mais um espécime da fantasia romântica – ou romantasy, como se diz lá por fora -, ainda que esteja longe de fazer corar como os mais atrevidos volumes de Sarah J. Maas. “A Maldição das Santas” (Saída de Emergência, 2023), assinado pela norte-americana Kate Dramis – que nos visitou durante a edição de 2023 do festival Bang! -, tem como protagonista Aya, alguém com a “capacidade de voltar para os Aposentos coberta pelos fluidos corporais de alguém e a cheirar como se tivesse tomado banho numa gamela de porcos”. Palavra de Tova, a bestie de Aya, que como troco recebe um cartão-de-visita com veia poética: “General sanguinária durante o dia, romântica sem emenda à noite”.
São tempos de guerra, e Aya, uma espia de elite, dedicou-se a uma vida de disciplina e dever, usando as suas habilidades para impedir o regresso da magia negra ao reino. Tempos em que há um feriado em honra de Santa Evie, cujo sacrifício deu cabo do “«Decachiré», o perigoso poder que tinha feito Visya ambiciosos tentarem ser deuses, ao pretenderem tornar ilimitado o seu poder”.
Se Aya é a terceira na linha hierárquica no que toca ao combate, Will é o Justiceiro da Rainha – o seu Segundo, o principal rival de Aya com quem partilha um passado pouco propício à construção de uma sequer tépida amizade. Gianna, a rainha sob o qual ambos gravitam, tem 35 anos e é pouco dada à formalidade, e correm rumores de que terá experimentado com Will outra posição que não apenas a hierárquica.
Quando corre o rumor de que Kakos, um reino ostracizado que está sob embargo, está ilegalmente a adquirir armas, Aya e Will vêem-se obrigados a trabalhar juntos, com a missão de averiguar se Trahir, um aliado de conveniência, tem sonhos de rebelião.
Ainda que o início seja algo confuso, Kate Dramis vai conseguindo preencher os intervalos de uma história habitada por lobos sagrados, um rei do submundo, uma santa fora do comum, guardiões do conhecimento ou de relíquias, um grupo de rebeldes ou uma estranha profecia que fala de alguém com poder bruto nas veias. Perante a presença de um poder com ar absoluto, Will decide colocar alguma água na fervura, de forma poética bem ao estilo de um jogral: “Não é luz, aquilo que te conduz”.
O final, que é assim como entrar no golden circle, coloca-nos na grade à espera de ler “The Curse of Sins”. O livro já está publicado em Inglaterra desde Junho, veremos se a Saída de Emergência mantém a aposta nesta série.
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