Imaginem o Shakespeariano Romeu e Julieta com muita vampiragem e olhos vermelhos – que não de choro – pelo meio e andarão perto de Sambre, uma história de amor impossível que decorre a meio do século XIX, com textos de Yslaire e ilustrações de Balac.
“Sambre – Volume I e II: Nada mais me importa… | Eu sei que tu virás…” (Arte de Autor, 2023) reúne os dois primeiros volumes da colecção, e apresenta-nos aos protagonistas de uma história que encarna o espírito do Romantismo: Bernard Sambre, um puto irrequieto e dado a explosões emocionais, que viu partir um pai cujo sonho era escrever “A Guerra dos Olhos” – que Sarah, a irmã de Bernard, decide concluir a partir das muitas notas deixadas para trás; e Julie, uma caçadora furtiva de olhos vermelhos e ar destemido.
É através das notas do pai de Bernard que nos é contada a história dos olhos, e de como aqueles com olhos vermelhos se tornaram criaturas temidas e odiadas: “Então o velho Czammb, o patriarca das criaturas de olhos negros enviou mensageiros a todas as outtras tribos. Todas se armaram e todas acorreram à chamada. Havia sers com olhos azuis, com olhos verdes, com olhos castanhos, e todos aceitaram esquecer as suas próprias contendas e unirem-se para exterminarem aqueles que abominavam, aqueles que tinham ousado contemplar o Criador sem baixar o olhar, aqueles que Ele tinha marcado como infames para sempre e assim designado ao ódio dos homens, o seres de olhos como brasas...”.
Mas há mais personagens nesta galeria romântica, que Balac retrata num jogo com pinta de chiaroscuro, fazendo do vermelho e do negro as suas cores de trabalho, qual Stendhall da banda desenhada: Rosine, a empregada de seios fartos; Guizot, o polícia (e primo de Bernard); ou a mãe de Bernard, uma viúva alegre que não olha à árvore genealógica quando toca a aventuras de cama.
No primeira metade deste volume conhecemos o universo familiar de Bernard e os seus sonhos de partir, a maldição deixada pelo patriarca e o nascimento de uma paixão que tudo tem para correr mal, que Julie parece encarar como uma obsessão pessoal: “Construímos uma ponte de pedra entre as nossas almas, e o sangue que nos uniu corre sob o seu arco. Saberei atravessá-la quando chegar o momentoo e, se necessário, abrirei uma passagem até ao teu coração rebelde, para que me ames”. Na segunda metade viajamos até Paris, cidade refúgio para Julie, lugar para onde se dirige também Bernard, atolado num mar de remorsos e, qual espelho baço, seguindo os passos dos fantasmas que o pai deixou para trás. O volume seguinte (que reúne os tomos III e IV) está já disponível nas livrarias, com o selo da Arte de Autor.
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