O dia 17 de Maio está, para os noruegueses, assim como o 4 de Julho está para os americanos: muita animação, fogo-de-artifício e, sobretudo, muita pólvora, para que o Dia da Independência norueguês não passe sem a grande e quase mundialmente famosa saudação real, onde vários canhões são disparados de forma ensurdecedora. É o dia «em que todas as bandas escolares de todo aquele país se levantavam muito cedo, vestiam uniformes que picavam e tocavam quase ao mesmo tempo.»
Lisa é a filha do comandante da fortaleza Akershus – o responsável máximo pelo grande momento da saudação real -, mas está longe de partilhar o entusiasmo vivido pelo pai, pois a sua melhor amiga mudou-se para muito longe. Porém, tudo irá mudar quando o Nicles – que era para se chamar Nicolau mas, por ser tão pequeno, teve o nome alterado à última hora -, um miúdo minorca de cabelo ruivo, se muda para a casa em frente na Avenida do Canhão.
Lisa e Niclas irão tornar-se companheiros inseparáveis, sendo promovidos a assistentes do Doutor Proctor, que há anos vive obcecado em ficar famoso de modo a regressar a Paris para recuperar a sua grande paixão, de nome Julieta Margarina. Desta vez e com a preciosa ajuda dos pequenos, Proctor parece ter encontrado a invenção que o tornará mundialmente famoso: o Pó de Puns do Doutor Proctor, inventado por puro engano – era para ser um remédio para a febre-dos-fenos – e que, ingerido em pequenas doses, provoca puns de grande amplitude sonora – e sem cheiro –, para gáudio dos muito pequenos e adultos um pouco infantis.
Porém, como em qualquer história, existem também aqui os maus da fita. Que, neste caso, estão representados pelo Sr. Thrane, um homem gordo e zangado que se tornou rico ao roubar uma invenção. Os seus filhos gémeos – Truls e Trym – são tão maus quanto ele, umas verdadeiras pestes para todas as outras crianças da escola. Quando descobrem que existe por aí uma invenção não patenteada que poderá gerar rios de dinheiro, tudo farão para lhe deitar as mãos em cima.
Entretanto, no sistema de esgotos em Oslo, corre o estranho rumor de que neles habita uma horrenda anaconda, que pelos vistos sofrerá de profundos traumas de crescimento. E que, descobrirá depois o leitor, será uma peça fundamental neste “O Pó de Puns do Doutor Proctor” (Planeta, 2014).
Conhecido sobretudo pela criação de Harry Hole, um dos maiores inspectores de raízes Chandlerianas, Jo Nesbo é um dos grandes mestres da literatura policial moderna. Se não o maior. Neste “O Pó de Puns do Doutor Proctor” o norueguês mostra um grande sentido de humor, criando uma história muito divertida à volta de um gás natural de origem humana que, para os mais sensíveis, será atenuado pelo facto de não emitir qualquer odor.
Apesar do divertimento não faltam vestígios de temas habituais nos livros de Nesbo, como a violência, a sede de justiça e o desejo de vingança, ainda que apareçam diluídos nesta prosa dirigida à pequenada. As ilustrações de Per Dybvig, dando predominância ao traço negro de ar inacabado, retratam de forma soberba os heróis e sobretudo os vilões desta divertida história.
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