Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Sobre o livro
Mais do que uma reflexão literária ou semiótica sobre a mentira e a ironia, este pequeno livro de Umberto Eco reúne quatro ensaios sobre os usos e abusos da linguagem.
Apesar de aparentemente não terem muito em comum, as figuras que habitam estes textos do célebre semiólogo italiano – Cagliostro, Alessandro Manzoni, Achille Campanile e Hugo Pratt -, proporcionam uma reflexão sobre a linguagem e a sua capacidade de ironizar, mentir, desfigurar ou subverter o sentido das palavras.
O médico e filantropo Cagliostro mente com a palavra e mente com o hábito. Por outro lado, mentem sobre Cagliostro as lendas que o transformaram de insignificante aventureiro que foi em mito e símbolo do livre-pensamento, vítima do obscurantismo clerical.
O poeta e romancista Manzoni, que na sua obra ensaística dedicou à linguagem páginas bem mais complexas, sugere, no romance “Os Noivos”, uma oposição entre a linguagem verbal, veículo de mentira e de prepotência, e os signos naturais, através dos quais os mais humildes compreendem quando os poderosos os tentam enganar com a sua verve.
O dramaturgo Campanile, com a linguagem e os seus clichés, brinca, vira e revira do avesso as frases feitas como uma luva, e provoca efeitos de distanciamento. e Hugo Pratt, na sua criação de Corto Maltese, joga com a geografia, que aliás conhece muito bem, e parte de mapas verdadeiros para iludir as fronteiras, para fazer levitar as distâncias, e com elas a nossa imaginação.
Mentem por ironia Campanile e Pratt, mente por interesse Cagliostro e Manzoni, com indignação, toma o partido dos pobres que sofrem humilhações verbais dos poderosos, enquanto Eco se diverte, e nos diverte, identificando os locais onde a linguagem entra em curto-circuito e se contradiz a si própria, explodindo em ambiguidades e discrepâncias.
Sobre o autor
Escritor e homem de letras italiano, Umberto Eco nasceu a 5 de Janeiro de 1932 em Alessandria (Piemonte) e morreu a 19 de Fevereiro de 2016. Pouco se sabe sobre as suas origens e a sua infância, salvo que revelou extrema precocidade ao doutorar-se pela Universidade de Turim com apenas vinte e dois anos de idade, em 1954, apresentando para o efeito uma tese consagrada ao pensamento filosófico de São Tomás de Aquino “O Problema Estético em S. Tomás de Aquino”.
Entre 1954 e 1959 desempenhou as funções de editor cultural na famosa cadeia de televisão estatal italiana RAI, leccionando também nessa altura nas universidades de Turim, Milão e Florença e no Instituto Politécnico de Milão. Com apenas trinta e nove anos de idade foi nomeado professor catedrático de Semiótica pela Universidade de Bolonha, a mais conceituada do seu país.
Começou a escrever nos finais da década de 50, contribuindo para diversas publicações periódicas com uma série de artigos que seriam reunidos em volumes como “Diario Minimo” (1963, Diário Mínimo), “Il Costume di Casa” (1973), “Dalla Periferia Dell’Impero” (1977) e “Il Secondo Diario Minimo” (1992). O seu início de atividade ficou também marcado por obras como “Opera Aperta” (1962) e “Apocalittici E Integrati” (1964, Apocalípticos e Integrados).
Mantendo uma carreira editorial bastante completa e activa, Eco não deixou de publicar estudos académicos sobre Estética, Semiótica e Filosofia, dos quais se podem destacar “La Definizione Dell’Arte” (1968), “Le Forme Del Contenuto” (1971), “Trattato Di Semiotica Generale” (1976), “Come Si Fa Una Tesi Di Laurea” (Como Fazer Uma Tese de Doutoramento, 1977) e “Arte E Bellezza Nell’Estetica Medievale” (1986), obra que lhe valeu vários e conceituados prémios literários. Em 1980 publicou o seu primeiro romance, “Il Nome Della Rosa” (O Nome da Rosa), obra que foi imediatamente considerada como um clássico da literatura mundial. Contando as andanças de um monge do século XIV que é chamado a uma abadia beneditina para solucionar um crime, Eco restabelecia a velha contenda entre o mundo material e o espiritual. A obra foi adaptada com sucesso para o cinema em 1986, pela mão do realizador Jean-Jacques Annaud.
Bastante popular, sobretudo nos meios mais eruditos foi o seu segundo romance, “Il Pendolo Di Foucault” (1988, O pêndulo de Foucault), em que Eco contrapunha o hermetismo e a cosmologia aos potenciais da informática e aos perigos do crime organizado.
O público acolheu com mais modéstia “L’Isola Del Giorno Prima” (1995, A Ilha do Dia Antes), romance em que Roberto della Griva, um aristocrata do século XVII, desperta numa embarcação à deriva no Pacífico Sul, e “Baudolino” (2000, Baudolino), obra também pertencente ao género do romance histórico.
Editora: Gradiva
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