Foi o primeiro lançamento da editora A Seita este ano, e pode dizer-se que se trata de um grande acrescento aos muitos títulos e séries mangá disponíveis nas livrarias nacionais – neste caso um manga seinen, título dado aos mangás dirigidos ao público adulto. Da autoria de Masaaki Ninomiya, “Gannibal 1” (A Seita, 2023) tem toques de policial, thriller e terror, numa geografia com o seu quê do lugar no qual Jack Torrance decidiu instalar-se para curar o seu bloqueio de escrita – se bem que, em Kune, haja uma população inteira, ao contrário do isolamento de Shinning.
“Nos 200000 anos da história da humanidade, o canibalismo sempre fez parte da nossa cultura”. É desta forma, meio na vibe National Geographic, que tem início esta série, apresentando de seguida o polícia que Daigo Agawawa, até então um polícia citadino, veio substituir neste fim de mundo. “Tinha tanto tempo livre que se perdeu no jogo, acumulou montes de dívidas e fugiu”. Antes disso, espalhou boatos de que a população de Kuger era… canibal.
Com Daigo Agawa seguiram esposa e filha, esperando encontrar uma vida calma numa comunidade acolhedora. Logo à chegada, porém, deparam-se com um cenário de crime que, a ser nos States, levaria à chegada de helicópteros, cães farejadores e toda a parafernália CSIana: o corpo de uma velhota com umas estranhas marcas no braço, que parecem ter sido feitas por um humano.
Daigo Agawa tentará levar a cabo a investigação e integrar-se nesta comunidade, mas as ameaças disfarçadas de humor – ou a seco – da Associação de Caçadores, ou o facto de se referirem à sua mulher como “a mamalhuda”, não facilitam lá muito a nova vida deste trio. O gelo cortante chega mais à frente: “Nesta aldeia, nada do que tu fazes é segredo para nós”.
O novo polícia do pedaço não desarma, percebendo que as respostas às suas muitas perguntas poderão estar com Sumire Kano, a filha do polícia desaparecido. Porém, há que enfrentar uma família poderosa, descobrir a quem pertence um dedo cortado, escapar a estranhos rituais e saber quem é o “Ele” a que toda a gente se refere em surdina, e que parece ter o poder da invisibilidade e a capacidade de obter de todos uma obediência profunda.
O desenho de Masaaki Ninomiya dá cartas nesta cidade remota, com grandes planos desenhados a traço grosso capazes de criar o sobressalto no leitor, nesta série de terror rural que nos chega das montanhas. Espera-se agora que, depois deste prometedor arranque, A Seita prossiga com a publicação desta série, originalmente publicada em 13 volumes.
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