Muito se discute, com o passar dos anos, como mostrar aos mais novos o terror que representou a Segunda Guerra Mundial, ou de como deveríamos ter aprendido com ela para evitar males parecidos – spoiler: não aprendemos. Para além das longas-metragens, diários e testemunhos deixados para a posteridade, uma boa forma de o fazer será através da banda desenhada. Um desses exemplos é o mergulho de Émile Bravo no universo Spirou, através de uma história em quatro volumes intitulada Spirou: A Esperança Nunca Morre, que está a ser publicada em Portugal pela Asa.
“Spirou: A Esperança Nunca Morre… (Terceira Parte)” (Asa, 2023) começa por nos colocar num comboio a caminho do fim – sendo, aqui, o fim representado por um campo de concentração. Um fim de linha pressentido por um judeu holandês: “É como se nos levassem para o matadouro!”. Ainda assim, há quem acredite cegamente nas indicações da Associação de Judeus da Bélgica, preferindo seguir ordens a tentar a fuga, possível no caso de Spirou graças a um canivete oferecido.
Spirou, Suzanne e Louis Pequeno refugiam-se no campo, acolhidos pelo sisudo Anselmo e a sua simpática mulher Mieke, para quem ser herói exige ter sempre uma arma por perto – ou na mão, para ser mais fiável. Um lugar por onde passa, a espaços, Edmond, o enigmático rebelde que esconde mais do que um trunfo.
Há ainda o regresso do muito activista espectáculo de marionetas, um olhar sobre a vida dupla da namorada de Fantásio ou uma aula histórica sobre os cruzamentos familiares e geográficos da I Guerra Mundial, num volume que é atravessado pelo espírito de fuga contra a obediência.
O final, esse, chega uma vez mais a alta velocidade e ao estilo Missão Impossível, fazendo com que a espera pelo quarto volume seja feita recordando a brincadeira recorrente que Bravo faz com o pobre do Spirou: “Vives no teu teatro de marionetas ou julgas que és o Tintin?”. Tragédia e comédia, ingredientes principais desta muito humanista visita de Émile Bravo ao universo Spirou.
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