E eis que, com a publicação de “O Outro Lado do Destino” (Devir, 2024), chega ao fim uma esmerada série mangá, assinada por Kaiu Shirai, desenhada por Posuka Demizu e publicada em Portugal com o selo da Devir.
The Promised Neverland está algures entre uma história de vampiros, um conto de terror, um filme B de ficção científica e uma visita aos estúdios de The Truman Show, ficando o protagonismo entregue a catraios que, quando os conhecemos, ainda não tinham atingido as 12 primaveras. Tudo começou quando Emma, Norma e Ray viviam felizes e sem grandes preocupações na Casa de Grace Field, acarinhados por uma mulher a quem, desde o berço, se habituaram a chamar de mãe – ou mamã -, enquanto esperava por uma adopção que tinham visto já bafejar outras crianças. Afinal, como corria nos corredores, “a vida na casa não dura para sempre. Todos temos de ser adoptados até aos 12 anos e sair do ninho“. Isto até ao dia em que Emma e Norman descobrem que há uma verdade arrepiante sobre a casa onde têm passado a sua existência, e que a única saída que lhes resta é uma fuga que está ao nível do que Stallone, Pelé e amigos fizeram em “Escape To Victory”.
Muito aconteceu desde esse lançamento e, chegados ao volume 20, um Peter Ratri encostado às cordas decide jogar a sua última cartada: “Se eu matar a Emma, a promessa desaparece e vocês voltam para o inferno”. Acusada de sonhar com algo que está para lá da utopia, Emma não desiste do seu pacifismo, mantendo a promessa de a todos levar para o mundo dos humanos.
Como sempre recuamos na linha temporal, desta vez para conhecer a “honrosa, nobre e mais importante missão para todas as gerações do clã Ratri: proteger o mundo” – para o Ratri actual, “os demónios são o espelho dos humanos”, e talvez os seus mundos não sejam assim tão diferentes; ou, ainda, recordando a promessa que a jovem Emma fez a um grupo de crianças assustadas, para quem a palavra esperança deixou de fazer parte do seu dicionário após a descoberta de que não passavam de alimento para os demónios: “Eu quero libertar todas as crianças. Quero acabar com todas as quintas. E criar um mundo sem crianças como nós”.
O final é delicioso – basta olhar para a foto de grupo da capa deste número final -, encerrando com muita classe esta história de coragem, sacrifício, igualdade, respeito e amizade. 20 volumes que valeram por um romance de aventuras – ou uma qualquer trilogia fantástica. Esta é mesmo para coleccionar.
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