Quem diria que o volume da colecção Preto, Branco & Sangue, dedicado ao desconhecido “Cavaleiro da Lua” (G. Floy, 2023) – alguém que, no seu cartão-de-visita, incluiu referências como “Mercenário”, “Filho da Lua” ou “Punho de Konshu” -, seria o melhor até à data, chutando para canto figuras como Wolverine ou Elektra?
Em traços gerais (e um pouco incompletos), a história da criação deste herói vai mais ou menos assim. Quando Marc Spector renasceu na sombra de Khonshu, o deus egípcio da lua, assumiu o papel de Cavaleiro da Lua, decidindo proteger os viajantes nocturnos do Mal (isso mesmo, com letra grande). Ao longo desta auto-imposta missão, passou por uma série de mudanças, mas a justiça permaneceu como o objectivo maior em todas elas. Neste quinto volume da colecção, publicado com o selo da G. Floy, são servidas 12 histórias desenhadas por gente como Jonathan Hickman, Chris Bachalo ou Paul Azaceta, havendo ainda tempo para a entrada em cena de convidados tão especiais como o Doutor Estranho ou o Homem-Aranha.
“Anubis Rex” traz-nos Ra, a percepção da finitude, muita raiva, loucura, verdade e… Escaravelhos; “Tão Branco, Mas Tão Negro” vem com um brinde chamado Homem-Aranha, que quer do Cavaleiro – “o tipo só pensa em cenas egípcias”, diz-nos – um favor algo inesperado. Uma história com um momento de pós-créditos delicioso; “Fim”, que decorre em modo VIP para protecção de testemunhas, vale desde logo pela fantástica teoria sobre o que fazer quando se vê um veado na estrada; “O Túmulo Vazio” é Cavaleiro da Lua em modo Surfista Prateado, atirando para o ar frases como “vim desenterrar o passado dos grãos de areia”. Isto enquanto endereça ao enigmático Doutor Estranho um pedido de ajuda, entre declarações como “acordo todos os dias ensopado no sangue dos outros” ou ainda “sou um sarcófago vivo“. Podia bem ter sido Poe a escrever esta; “Um Dia Daqueles” promove uma conversa à mesa com o múltiplo inconsciente, que termina com o clássico “se achas que isto parece mau… devias ter visto o outro”. “Planador Vermelho -Sangue” esconde, por trás da luta pelos direitos humanos, direitos de mineração – e “borboletas vermelhas que comem coisas podres”; “Passo em Falso” lê-se como um remake sanguinário de “Drive”; “Céu Vazio” apresenta, a partir de um culto em fanicos, uma nova definição para o que é o bom da fita; “Emplastronautas” embarca numa missão lunar com espaço para o romance; em “Bom Dia”, disputa-se um mortífero jogo do galo; “O Cheiro do Sangue” escrevinha o melhor dos guias para acabar com um culto; e, a fechar, temos “Nascido para Ser”, que nos faz pensar duas vezes em ter um gato como animal de estimação – quem já o tem que se cuide. Venha de lá o próximo volume tricolor.
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