E eis que, ao 5º volume de Corte de Espinhos e Rosas, Sarah J. Maas se diverte a brincar com o comando do ar condicionado, passando do erotismo de um “Emmanuelle” a um mais explícito “Império dos Sentidos”. Só falta mesmo a bolinha vermelha no canto da página para mostrar que, em “Corte de Chamas Prateadas” (Marcador, 2023), a autora norte-americana se deixou de brincadeiras.
“No início
E no fim,
Havia Escuridão
E nada mais.”
Desta vez, a história centra-se em Nesta Archeron, a personagem que menos leitores terá seduzido, talvez por se mostrar orgulhosa e sempre muito – mesmo muito – irritante. Estado que piorou depois de ter sido Feita no Caldeirão, tornando-se uma Fada Suprema que, ao invés de lidar com os poderes que poderá ter, decidiu viver uma vida anestesiada e fútil. “No último ano, Nesta aprendeu que sexo, música e bebida ajudavam”. Uma descida aos infernos a que está aliada uma total ausência de cuidados, vivendo cercada por “um sofá carmesim mole, uma lareira de tijolos manchada de fuligem, uma poltrona com um padrão floral comida pelas traças, a cozinha minúscula e decrépita, cheia de colunas tortas de louça suja”.
A boa vida termina quando Cassian, a pedido de Rhysand e Feyre – que vão pagando o cartão de crédito sem fundo de Nesta -, visita Nesta com um ultimato, fazendo com que esta tenha de cumprir duas vertentes de um mesmo acordo: treinar com ele na Casa do Vento, lugar de muitos encantamentos, e trabalhar numa biblioteca, onde trabalham mulheres que, como ela, vêm de passados traumatizantes.
Para quem gosta de fantasia pura e dura, a dose concentrada de romance que aqui mora poderá fazer com que a vontade de pousar o livro seja grande. Porém, para lá deste mapa cor de rosa, Sarah J. Maas continua a servir um mundo fantástico ao qual não faltam pontos de interesse: Vassa, a rainha exilada, “traída pelas outras rainhas, vendida a um mestre feiticeiro que a amaldiçoara a tornar-se um pássaro de fogo durante o dia e uma mulher à noite”; Koschei, o irmão mais velho do Entalhador de Ossos, “enclausurado no lago devido a um feitiço antigo”; as Valquírias, um clã de guerreiras que lutavam melhor do que os illyrianos, mas que a Guerra de há 500 anos riscou do mapa; os Primeiros Deuses, “seres quase sem forma física, mas com uma inteligência aguçada e cruel”; os muitos monstros que Cassian colocou na prisão, onde se incluem seres como a Lubia de Sete Cabeças, “que cometeu o erro de sair das cavernas do oceano profundo para caçar raparigas”, que engolia com toda a pressa do mundo; ou o Kelpie, “uma criatura ancestral, um dos primeiros monstros reais do mundo feérico”.
Porém, o que anima verdadeiramente este volume é a caça aos Tesouros Veneráveis, objectos forjados pelo Caldeirão que são verdadeiras armas: a Máscara, capaz de ressuscitar os mortos, “moldada a partir do rosto de um rei há muito esquecido”; a Coroa, que “pode influenciar qualquer um, perfurar o mais poderoso dos escudos mentais”; e a Harpa, com o poder de “abrir qualquer porta, física ou não”.
Um livro onde a escuridão serve para nos mostrar o caminho e que prepara, com sangue novo, a chegada iminente das rainhas humanas, que parecem querer começar uma guerra que todas as casas de apostas dizem não ter a mínima chance de vencer. Sexto livro que, correm os rumores, poderá ter como protagonista Elain, a irmã mais discreta do trio. Façam as vossas apostas.
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