Assinado por Katy Hays, que dá cartas em história e em museologia, “Os Claustros” (Bertrand Editora, 2023) é um bem baralhado thriller que mistura, em doses letais, obsessões diversas e cartas raras.
No centro da trama está Ann – a narradora -, que começa por lançar algumas perguntas ao leitor antes de uma revisitação ao passado: “E se toda a nossa vida – o modo como vivemos e morremos – já foi decidida por nós? Gostariam de saber, se um rolar de dados ou um lançar de cartas vos pudesse indicar o desfecho? A vida pode ser assim tão fina, tão perturbadora? E se fôssemos todos apenas César? À espera do nosso golpe de sorte, recusando ver o que nos aguarda nos Idos de Março”.
Depois de Cambridge e New Haven terem dado para o torto, Ann entrou no Programa de Verão para Graduados do Metropolitan Museum of Arte, em Nova Iorque, no qual aposta agora todas as suas fichas. Mesmo que possa parecer, aos olhos alheios, “uma campónia de uma escola desconhecida”. A escola era a Whitman, uma pequena e cara faculdade de artes liberal, onde Ann teve as propinas pagas pelo facto de ambos os pais trabalharem na universidade. Apesar disso, o balanço está longe de ser positivo: “Estudei ducados e cortes, nunca impérios”.
O trabalho de Ann no Museu dos Claustros, onde se irá encaixar de forma quase milagrosa após um engano administrativo, será o de ajudar numa exposição sobre adivinhação e as técnicas e obras de arte que eram usadas para adivinhar o futuro. Há, porém, um mundo paralelo e de difícil acesso, no qual entrará pela mão de um peculiar grupo de personagens: Leo, o muito estiloso jardineiro que trata dos sumptuosos jardins do Museu; Patrick, o abonado curador com uma fortuna familiar às costas, especialista em cartas de tarot; ou Rachel, uma belíssima mulher pouco habituada a ser contrariada – e que dificilmente não conseguirá aquilo a que se propõe.
Com um certo toque de “Jovem Procura Companheira” – filme de 1992 realizado por Barbet Schroeder – “Os Claustros” mergulha no mundo obscuro das sociedades secretas, do oculto e da adivinhação, numa história de poder, segredos e obsessão que levará a que, pelo caminho, Ann passe a olhar-se no espelho com olhos renovados: “Eu não era imoral; simplesmente compreendi a lição que a cidade me ensinava”. No final, muito provavelmente dará por si a comprar um baralho de tarot – ou a visitar uma adivinha de feira.
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