Prémio Eisner. Prémio Cybils. Prémio Harvey. Escrita e ilustrada por Vera Brosgol, a novela gráfica “O Fantasma de Anya” (Fábula, 2023) tem-se fartado de levar troféus para casa, numa história que relata as agruras de uma adolescente que, tal como muitas outras adolescentes, parece ter dificuldade em integrar-se com o mundo que a rodeia.
Filha de uma família de emigrantes, Anya sente-se posta de parte, preferindo manter-se na sombra a dar nas vistas. Os colegas de escola vêem-na como pobre e remediada. Já Dima, o compatriota russo que tem um crush por Anya, não recebe qualquer troco. Sobre as suas raízes transplantadas para a América, Anya mostra ter grande espírito de jardinagem: “São um monte de pessoas velhas que não querem aprender inglês a dizer-me que sou demasiado gorda, quando os calcanhares deles mal cabem nos seus sapatos ortopédicos”.
Descontente com a evolução do seu corpo, Anya perde-se de amores por um rapaz popular que já tem namorada, uma daquelas que acaba sem esforço no topo da pirâmide das cheerleaders depois de uma esmerada acrobacia. Um dia, a caminho de casa, cai num poço antigo e fundo, sem água, mas que esconde um esqueleto falante, aí aprisionado há 90 anos. Com comida racionada e algum tabaco, Anya vai entabulando conversa com o fantasma de Emily até ao ansiado salvamento, ouvindo o lamento desta alma penada: “Não consigo afastar-me muito dos meus ossos”.
Anya decide então pegar no osso do dedo mindinho do esqueleto, acabando por garantir uma passagem a Anya para a superfície. Com Emily, Anya irá viver uma amizade improvável que, do encanto inicial, se irá transformar em paranóia, muito ao estilo do filme “Jovem Procura Companheira”.
Com uma corrente de ar que vai soprando cada vez com mais intensidade, Vera Brosgol oferece-nos, entre a comoção e a comédia, um retrato sobre uma adolescente à procura do seu caminho, que acaba por conseguir transformar as suas inseguranças em forças – ou, pelo menos, rir-se delas. Tudo num preto e branco que mais parece um sépia de luto, com balões de texto clássicos, letra legível e uma arrumação clássica das vinhetas. Tem tudo para se tornar numa banda desenhada de culto.
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