“Numa véspera de verão invulgarmente fria, no meio de uma tempestade uivante, as gémeas chegaram. Mas não se tratava do início de um conto de fadas encantado. Aqueles que haviam estado alerta, à espera, reconheceram-no como o presságio que era, Uma renunciaria à sua vida mortal, a outra venderia a sua alma.”
Começa com esta nota, arrancada ao grimório Di Carlo secreto, o segundo volume da trilogia O Reino dos Malditos, intitulado “O Reino dos Amaldiçoados” (Bertrand Editora, 2023). Depois de um primeiro volume que soube a marinada (ler crítica), este fica praticamente ao ponto, prometendo um fecho de trilogia de grande fôlego com “O Reino das Temíveis” – já disponível nas livrarias.
Kerri Maniscalco recua com estrondo na linha temporal, mostrando-os que esta guerra entre mundos terá começado com uma maldição lançada por uma bruxa sobre um Rei: “– De hoje em diante, uma maldição irá varrer esta terra. Esquecer-te-às de tudo menos do teu ódio. Amor, bondade, todas as coisas boas do teu mundo cessarão. Um dia isso irá mudar. Quando encontrares a verdadeira felicidade, prometo levar também o que quer que ames.”
No tempo presente, Emilia, que prometeu casar com o Rei – de seu nome Príncipe Ogulho – para acabar com esta maldição, vai soando as estopinhas nos Sete Círculos do Inferno, e as primeiras impressões não vão lá muito ao encontro da imaginação: “Em cada pesadelo, imaginara uma cascata de fogo e enxofre a chover sobre nós. Chamas escaldantes que me queimavam a alma ou derretiam a carne dos ossos. Em vez disso, lutei contra um tremor repentino”. Nesta sua jornada de vingança pela morte da irmã Vittoria, a gémea vai-se portando como uma beta mimada, sendo de elogiar a santa paciência do Príncipe Ira.
“O Reino dos Amaldiçoados” é um livro onde há um pouco de tudo, desde o erotismo no Corredor dos Pecados ao revelar de vários segredos de família, sem esquecer os muitos twists reservados ao leitor ou a Fábula da Árvore dos Condenados, que reza mais ou menos assim: “Diz-se que, entre outros favores, a árvore considerará amaldiçoar um inimigo declarado se o desejo de o fazer for verdadeiro”.
Pelo caminho, entre muitos enganos, mentiras e traições, entraremos numa caça desenfreada a objectos como o Espelho da Lua Tripla ou a Chave da Tentação, sobre a qual a Matrona das Maldições dos Venenos, bela invenção, deixa um sério aviso: “Os objectos divinos… não devem ser encarados de ânimo leve”.
Depois de uma boa dose de conversa de cama, as últimas páginas valem bem por este volume – e há quem diga que o terceiro é mesmo o melhor de todos…
Sem Comentários