Com assinatura e desenhos de Aaron Blabey, Os Mauzões é uma das mais castiças e doidas séries literárias apontadas aos mais pequenos, que os apresenta de forma mais ou menos subtil – e à boleia do preto e branco – à excelência da banda desenhada. Isto se já não estiverem perdidos de amor por ela.
A série é protagonizada por um grupo de heróis invulgares, em busca de uma nova imagem e de uma espécie de redenção, que possa contrariar o papel que o mundo lhes atribuiu segundo as enciclopédias animais. No volume inicial, publicado em 2018, fomos apresentados ao cabecilha desta improvável quadrilha: o Sr. Lobo. Alguém que adora abraços e se diz injustiçado apesar de, na sua ficha de registo criminal, não haver espaço para grandes elogios: soprou sobre casas, fez-se passar por ovelha, arrombou casas de velhinhas – fez-se passar vezes sem conta por uma delas -, tentou comer velhinhas e os seus familiares – há, claramente, uma certa fixação por velhinhas -, roubou camisas de noite e chinelos e, no seu estado, é dado como perigoso, devendo evitar-se qualquer tipo de contacto com ele.
O lobo, crente na mudança, decidiu convocar outros três animais para formarem um gangue que será apelidado de “O Clube dos Bonzinhos”: o Sr. Víbora – ou comedor de galinhas, que detesta que o confundam com uma sardinha -, o Sr. Piranha – ou mordedor de rabiosques – e o Sr. Tubarão – mais conhecido por Dentaças.
“Supermaus” (Porto Editora, 2023) é já o 8º livro da série, e traz-nos uma novidade das boas (para além de 6 cartas para coleccionar): a Liga Internacional de Heroínas. Por esta altura, o Sr Lobo e companhia vão actuando como o Clube dos Bonzinhos – dizem estar a trabalhar num nome mais fixe -, parecendo copiar o visual dos Homens de Negro.
Quanto a habilidades, a coisa continua a mostrar falhas várias. Uma intervenção desastrada, que inclui estranhas torradeiras ou actos de nudez involuntária, obriga à intervenção da mais experiente e organizada Liga Internacional de Heroínas e das suas agentes: Raposa, mestre em espionagem e artes marciais, fluente em 14 línguas; Felina, mestre em artes marciais e medicina, piloto da Força Aérea; Javalouca, perita em demolições e especialista em combate; Treva, a melhor hacker de sempre; e Rastilho Curto, à volta de quem tudo é mistério.
A Raposa vê – é a única entre os elementos da Liga – potencial nestes bonzinhos, mas será preciso muito treino – e um controle sobre os poderes que têm mas não conhecem – para conseguirem derrotar os extraterrestres, que têm já naves-mãe posicionadas sobre todas as cidades principais, a juntar a naves de combate e de guerra robóticas. O final Godziliano promete, pelo menos, mais um par de volumes na colecção.
Blabey continua a retratar estes bonzinhos do pior de forma ternurenta e algo alucinada, em ilustrações expressivas e de traço pouco carregado que ganham vida própria muito graças ao jogo de letras, no qual sobressaem as maiúsculas carregadas a negro.
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