“O Meu Pai Devia Ser Bromatólogo” (Hipopómatos Edições, 2022) é uma narrativa bem-humorada e divertida. Enaltece a literatura infanto-juvenil, elogia a magia das histórias que ouvimos, lemos e damos a ler. Convida-nos para um agradável e despretensioso diálogo intertextual.
Quem não se lembra de histórias que se passam na floresta? Quem não se lembra de histórias onde as bruxas e as suas vassouras são capazes dos maiores feitos? Quem nunca aguardou impacientemente um “A-bra-ca-da-bra!”? Quem não se recorda das histórias de “O Coelhinho Branco” ou de “Os Três Porquinhos”? Quem não se lembra da incrível história do rapaz que comia livros de Oliver Jeffers?
Esta é a história do Frederico, um rapaz que se alimenta, literalmente, das histórias que lê nos livros. “Ele é maluco por histórias! Apanha cada barrigada!“, afirma a irmã. Um dia, tornou-se “meio vegetariano” devido à quantidade “de coisas verdes que comeu”, porque a história se passava na floresta. Pouco a pouco, vai alargando a sua dieta a outros volumes impressos, tipo dicionários. Frederico não é esquisito, prova qualquer história. Como qualquer bom leitor, gosta de partilhar as impressões, descrever sensibilidades, perguntar ou tecer alguns comentários. Um dia, provou uma história logo pela manhã e… como não aparecia, todos andavam à sua procura. Onde estaria o Frederico?
A ilustração de Renata Bueno confirma o tom humorístico da narrativa – as personagens são apresentadas num traço tosco remetendo-nos para o imaginário infantil. A guardas, iniciais e finais, são padronizadas, recordando uma teia onde as linhas se entrelaçam incitando à ideia de que as histórias se envolvem umas nas noutras.
A narrativa da Nazaré de Sousa envolve-nos carinhosamente no feitiço das histórias que nos fizeram crescer, na incrível descoberta das palavras e na importância do outro. Dos que nos deram a ler, dos que nos acarinharam (e continuam a acarinhar), dos que nos ouviram e nos escutaram. Um livro que abraça a realidade e a ficção, para ler e dar a ler.
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