Se Jon Fosse fosse um escritor banal, não seria louvado por tantos críticos e leitores como um dos mais brilhantes autores da literatura europeia contemporânea. Pois bem, Fosse anda agora pelas bocas do mundo após ter sido anunciado como o vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2023 pela Real Academia Sueca, que exaltou a escrita inovadora do autor norueguês.
Se há obra que consubstancia a brilhante carreira e a singularidade da fórmula literária de Jon Fosse, essa será Septologia, o mais recente projecto do dramaturgo, poeta e romancista. Traduzido do norueguês por Liliete Martins, “O Outro Nome. Septologia I-II” (Cavalo de Ferro, 2022) é o primeiro de três volumes do septeto romanesco, no qual já se carimba o selo de magnum opus.
“O Outro Nome. Septologia I-II” é um romance psicológico onde se desenrola o quotidiano de Asle, um solitário e abstinente pintor que se debate com questões de fé e fantasmas do passado. A vida de Asle entrelaça-se com a de um outro Asle, também ele pintor e solitário, porém alcoólatra e destrutivo. Fiel à personagem-tipo de Fosse, o protagonista deste livro deambula entre o niilismo e o cristianismo, e embora o vulto da tragédia paire constantemente sobre si, Asle é capaz de entrever, por entre a confusão de sombras, algumas nesgas de luz.
Escrito no melodioso registo de prosa lenta que celebrizou Jon Fosse, “O Outro Nome. Septologia I-II” é um livro que explora o incessante conflito interno que define a condição humana. Apesar da economia lexical e da narrativa hesitante, o discurso habilmente sincopado do narrador consegue atirar o leitor para o centro de uma dança bela e indolente, para a qual o autor convidou também a decadência, a esperança, Deus e a morte.
Para um autor tão frugal em matéria de figuras de estilo, aforismos e até pontos finais, o modo como o escritor norueguês capta e transmite as mais poderosas emoções humanas é genuinamente extraordinário. Descobrir “O Outro Nome. Septologia I-II” pressupõe uma entrega à experiência literária ímpar que é ler uma obra de Jon Fosse — a acção dramática entregue numa linguagem despida de artifícios, o seu estilo labiríntico e o ritmo prosaico inconfundível contam tudo. O Nobel da Literatura era apenas uma questão de tempo.
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E uma pobre tradução…