A editora Akiara habitou-nos a livros inspiradores, intimistas, onde as palavras e a ilustração abraçam a sensibilidade e uma estética sublime. Cada livro desperta a capacidade de nos maravilharmos perante o mundo.
Akipoeta é o nome dado à colecção que disponibiliza livros com um aspecto artesanal: uma costura exposta, textos cuidados e ilustrações singulares, onde a beleza dos pormenores impera. “Uma Quinta” (Akiara books, 2022) é um novo título desta colecção, um excelente exemplo de livros que despertam nos jovens leitores a capacidade de se espantarem diante a natureza.
É um livro de poemas em verso livre, uma espécie de caderno de apontamentos e ensinamentos sobre a fauna, a flora, os animais e a vida no campo, recordações poéticas dos dias passados na quinta.
No primeiro poema, Alex Nogués convida-nos para imaginar um paraíso, um momento perfeito:
“(…) campos cheios de promessas.
E uma azinheira cheia de anos.
E uma fonte cheia de vida.
E um tanque cheio de abismo,
E um palheiro cheio de palha,
E um bosque, cantando,
Para se encher de crianças.
Imagina duas cadelas,
Uma família,
Sete primos,
E os dias.”
Cada poema narra breves episódios na vida da quinta, situada na Catalunha e pertencente à família do autor. Das muitas aventuras e descobertas, mencionamos a emocionante corrida de caracóis, o dia em que o pequeno mocho entrou pela chaminé, as galinhas chocas que “incubam qualquer coisa desde que pareça um ovo”, a poupa que apareceu na clareira do bosque durante um passeio, o ganso que simplesmente,se chamava ganso ou a bela pena do barulhento gaio.
Cada poema é ilustrado a lápis, com um estilo livre em aguarela, e muitos são os detalhes cheios de cor e expressividade. As guardas iniciais e finais, padronizadas, apresenta-nos diferentes tipos de penas e plumas, simbolizando a leveza dos dias e a magia da infância.
Este é um livro para ler ao ar livre, escutando o som dos pássaros ou de outros animais, e sentir os cheiros dos campos ceifados. Recomenda-se que o leiam devagar, saboreando cada palavra, cada verso, de modo a recordar as façanhas vividas e as descobertas inesquecíveis. Se nunca viveu tais sensações, chegou a hora de sair da cidade e descobrir as maravilhas de uma vida no campo.
No final, o autor diz-nos o que realmente importa. para além da curiosidade, das brincadeiras, da inocência, do afecto e da liberdade: importa não ter medo, viver o instante, despertar os sentidos e “olhar para um passado cheio de amor, que faz crescer o amor”.
Alex Nogués nasceu em Barcelona no ano de 1976. Estudou geologia, atraído pela linguagem das rochas – decifrar esta linguagem é desenredar a história da Terra e da vida. Primeiro especializou-se em paleontologia e, mais tarde, em águas subterrâneas. Há documentos que provam que já escrevia letras aos cinco anos, como a maioria das pessoas. Desde sempre quis converter as suas ideias em livros, bandas desenhadas e revistas. Actualmente vive na Catalunha, a vinte minutos do mar, rodeado do que mais gosta.
Alba Azaola nasceu numa família tão grande e acolhedora como uma quinta. Em pequena, copiava as ilustrações de animais de Beatrix Potter. Mas sempre me custou concentrar-me só numa coisa. De maneira que, enquanto crescia, para além de ler e pintar, dedicou-se a brincar com o irmão, a viajar e a viver aventuras com gente fantástica. Estudou biologia e oceanografia. Voltou a estudar, desta vez ilustração e ilustração científica, e descobriu com alegria que para ser ilustradora não precisava de se concentrar numa só coisa, mas antes viver muitas aventuras, amar muita gente e ir até ao bosque à procura de poupas.
Maria João Moreno traduziu este belíssimo livro.
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