Há uns valentes anos atrás, os amantes de música em Portugal perdiam praticamente a cabeça. O que dizer do aparecimento de um festival de música que, para além de trazer ao país alguns dos nomes mais sonantes do universo musical, estendia a festa a outros menos conhecidos, com palcos diversos e tendas onde a festa se fazia durante horas a fio e em simultâneo? Pois bem, chega agora a vez de os amantes da literatura atirarem os foguetes, estando encontrado o epicentro literário português: a vila de Óbidos que, entre os passados dias 15 e 25 de Outubro, acolheu a primeira edição do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, afirmando-se como um lugar onde a literatura já montou casa.
Desdobrada em cinco grandes áreas – Autores, Educa, Ilustra, Paralelo e Folia -, o festival saltou da mera leitura ou animada conversação para se transformar numa festa, com uma dimensão invulgar para um evento que tem nos livros e na arte da escrita a sua grande inspiração e motivação.
Às “mesas” com os escritores, que foram do futebol ao Rio de Janeiro, do humor ao desencanto europeu, juntaram-se a música, o teatro, várias exposições e espectáculos de poesia e de leitura de textos, num evento que fez aquilo que à partida seria difícil para a primeira vez de um evento grandioso: lançar – e sobretudo plantar – as bases para uma segunda edição.
Os dados oficiais são animadores. Durante 11 dias, foram cerca de 30 mil as pessoas que acorreram ao FOLIO. O programa prometia muito e, no final, cumpriu a sua missão com clara distinção, contando com a presença de 200 autores, 56 ilustradores num total de 459 criadores em 37 conferências, 36 espectáculos e 14 exposições.
Se dissermos que este foi mais um passo para a missão de fazer de Óbidos uma vila literária à escala planetária, tendo também sido entregue na UNESCO uma candidatura à sua Rede de Cidades Literárias, onde estão, por exemplo, Cracóvia, Melbourne, Edimburgo ou Dublin – a decisão será conhecida a 11 de Dezembro -, o FOLIO merece ser celebrado com arromba.
Claro que num projecto de ar utópico e tremendamente iniciático nem tudo poderia correr bem: tivemos mesas quase desertas, assistimos ao cancelamento de algumas apresentações de livros por falta de público, a sinalética colocada na vila esteve longe de ser eficaz, sobretudo se a ideia fosse a de captar público que tinha ido a Óbidos apenas para uma visita de médico e que acabasse por ficar mais tempo.
Porém, mesmo com as falhas existentes, a primeira edição do FOLIO constituiu um verdadeiro caso de sucesso. Apenas com a ambição, o risco e o arrojo mostrados foi possível realizar um festival que tinha, como missão muito complicada – e plenamente cumprida -, fazer da Literatura uma celebração. Foi bonita a festa. Para o ano cá estaremos.
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