Se há vozes que fazem parte do imaginário de quem tem por bom hábito ouvir a rádio, a de Inês Maria Meneses será, sem qualquer dúvida ou sombra, uma das mais cativantes. Uma mistura de sensualidade e desprendimento, de criancice e conversa séria, algures entre o riso e o sussurro que parece emanar um poder encantatório sobre aqueles que a vão escutando, tal como aquelas sereias marotas que nadavam na Odisseia de Ulisses.
Esteve 12 anos na TSF, picou o ponto na XFM, apresentou o programa Onda Curta na RTP 2, tendo continuado a dar-lhe voz durante uma década. Foi também uma das protagonistas de Prazer dos Diabos, o bem-disposto programa que fez parte da programação da SIC. No meio de tudo isto ainda arranjou tempo para escrever sobre gastronomia na revista Sábado, onde não poupou nas pitadas de humor.
Nos dias que correm torna mais bonitas as manhãs de quem a ouve na Radar, estação onde mantém também um dos mais interessantes programas-entrevista da rádio: Fala Com Ela. Na Antena 1 apresenta diariamente, na companhia de Júlio Machado Vaz, “O Amor É”, enquanto na Meo Music assina matinalmente a crónica Boca de Incêndio. Na imprensa escreve sob pseudónimo desde 2004 – não será fácil descobrir qual -, identidade sob a qual editou, também, um livro. Tem também uma página semanal na revista do Expresso – a E -, onde lança 10 questões, sempre certeiras, a um convidado, mostrando o poder que tem não só de entrevistar como de ler nesse maravilhoso mundo das entrelinhas.
O Deus Me Livro lançou algumas questões a Inês Meneses, dando início a uma rubrica onde mostramos um pouco de quem está do outro lado das ondas hertzianas.
As tuas manhãs da Radar são como um casamento feliz entre a pura nostalgia e o melhor que a actualidade nos traz. Já levas um alinhamento estudado ou há também muito de transpiração e inspiração nestas incríveis viagens no tempo?
Não. Sou como os Chefs de cozinha: uso os ingredientes que me aparecem pela frente, e às vezes uns levam-me a outros.
Silêncio, que agora vou / Esperar sentado / Pelo bocado dessa voz. Como foi veres-te metida dentro de “Essa Voz”, esse grande tema do grande Samuel Úria que praticamente te construiu uma estátua?
Uma total surpresa e uma felicidade que não coube em mim.
Um disco para a eternidade e mais além.
Melhor que uma fotografia.
A música que não te sai da cabeça (a mais recente).
São demasiadas sempre. As que passo na Radar, as que ouço na cozinha. Há um disco que voltei a ouvir doentiamente que é a banda sonora do filme “Fim-de-semana no Ascensor”, do Miles Davis.
Um dos concertos da tua vida (e que te tenha deixado quase sem conserto).
Os Arcade Fire há 8 anos em Lisboa. Os National na Aula Magna há 7.
Pareces ter um grande fascínio por roupa, e em ti qualquer trapinho parece assentar bem (até mesmo riscas com quadrados ou uma meia de cada cor). Como consegues esse feito e de onde te vem essa quase insanidade pelo que se põe no corpo?
Já que tenho de me vestir que isso seja também um desafio. Eu não temo a roupa. É a atitude que faz o estilo e não o contrário.
Acompanhas os jogos todos do Rio Ave? E trata-se de um amor único ou há também espaço para mimos extra (talvez o fêquêpê)?
Sempre fui do FCP. Como o meu pai, aliás. Recentemente, por causa do meu irmão e do meu amor incondicional por Vila do Conde, sigo sempre o Rio Ave. Sim, vejo todos os jogos, ou praticamente todos. Foi por causa do Rio Ave que aderi à Sport Tv (e sou sócia como é sabido).
Uma refeição que poderias repetir vários dias a fio.
Peixe. Gosto pouco de carne, muito antes da paranóia instalada.
Dizes palavrões? Tens algum favorito?
Digo, mas como em tudo escolho-os para ocasiões certas. O gratuito de um palavrão torna-o grotesco. Tenho um favorito mas seria gratuito escrevê-lo aqui.
Como é ter um pseudónimo que quase ninguém conhece? Já houve alguém que falasse contigo sobre uma das tuas crónicas sem saber que eras a autora (e tu a tentar conter o riso)?
Ao longo destes anos muita gente foi sabendo desse pseudónimo. Já lá vão 10 anos. Algumas pessoas escreveram-me não sabendo que ‘ela’ era eu.
Costumas ler uma história à tua filha antes da hora do sono? Há algumas recorrentes?
Ela já as lê. Muitas vezes é ela que me adormece que eu gosto de dormir cedo.
Com que livros cresceste durante a infância e a adolescência?
As aventuras dos Cinco, o Júlio Verne, livros onde a fantasia nos aquecia e fazia sonhar (porque não tínhamos muito).
Já houve algum livro que te fizesse chorar que nem uma Madalena?
Não. Só o cinema o consegue. E a vida real.
Quais os últimos livros que levaste para a cama (ou que conseguiram chegar, pelo menos, à mesa-de-cabeceira)?
O excelente “Dicionário sentimental de Futebol”, do Rui Miguel Tovar e “O caviar é uma ova”, do Gregorio Duvivier (meus recentes convidados do Fala com Ela).
Um livro que está por ler há demasiado tempo.
Nenhum me parece adiado.
O teu lema de vida (que até poderia ser impresso numa T-Shirt).
Se não te lembras é porque não é importante.
Fotografia: Vitorino Coragem
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