Quando, depois de 32 números compilados em seis volumes de capa dura, chegámos ao fim de Descender, a premiadíssima série assinada pela dupla Jeff Lemire (argumento) e Dustin Nguyen (arte), a surpresa não poderia ter sido maior. Descender era a série que se seguiria, tendo o enquadramento sido servido em “A Galáxia Assombrada”, o volume de abertura:
“Dez anos depois a história continua… Passou-se uma década desde o desaparecimento das máquinas, e, na sua ausência, a magia reclamou o seu lugar no Universo! Agora, uma rapariga partirá numa demanda épica em busca dos robôs e de Tim-21, o messias deles, antes que seja demasiado tarde…”
Desta vez, Lemire e Nguyen acabaram por reduzir a nova série a 18 números, compilados em 4 volumes de capa dura, que termina comme il faux neste “Semente Estelar” (G. Floy, 2023), não ficando qualquer porta aberta para outro tipo de “ender”.
“Uma memória. Eu não passava disso. Dados armazenados na matriz de chips de circuito integrado de silicone”. As palavras são de Tim-21, a máquina com tanto de humano como nós, que revisita a sua passagem pela Lua Mecânica no centro do universo, até ao momento em que decidiu que queria mais, partindo ao encontro do (nosso) mundo.
Enquanto que a Mãe, qual Darth Vader, reúne as suas forças para dizimar a Resistência, Tim-21 e amigos – já com a contrariada Telsa de volta à vida de chefe – preparam-se para este duelo entre homem e máquina, entre mágoa e dados, uma dualidade presente desde o início dos tempos.
Tal como em todos os volumes da dupla Lemire/Nguyen, “Semente Estelar” é visualmente espectacular, transformando em obra de arte pintada a aguarela este poema sobre recomeços, amizade e família – alargada como deve ser. Não poderia ter havido melhor final para esta viagem inesquecível.
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