“De que tipo de mulheres gostas?”. Esta pergunta, que até poderia ser atirada no meio de uma conversa de café entre cervejas, está aqui muito longe do cenário social. Senpai Todo, um feiticeiro de 1º nível, acredita que “os gostos das pessoas que nos atraem reflectem-nos na perfeição”, pelo que está curioso em conhecer a resposta do caloiro Fushiguro Megumi, que dá numa de Paulo Coelho e responde desta forma: “Se a pessoa possui princípios inabaláveis…não procuro mais nada”. Uma resposta chata – segundo os padrões de Senpai – que lhe vale uma valente carga de porrada, mas que também lhe atiçará o lado mais rebelde: “Vejo que não só pareces um ananás como tens um ananás dentro da cabeça”.
Bem-vindos à Escola de Jujutsu de Tóquio e à série Jujutsu Kaisen, escrita e desenhada por Gege Akutami, que mistura artes marciais, estranhos apetites gourmet, maldições e um humor bem castiço. “Peixe jovem e punição divina” (Devir, 2022), o volume 3 da série, vê Itadori Yuji regressar dos mortos, obrigando-o a trabalhar no duro para tentar chegar ao nível dos colegas de turma e de escola.
Recordando a matéria dada, a vida de Yuji mudou depois de ter comido, sem ter noção, um dedo amaldiçoado, o que fez com que um ser maligno passasse a viver dentro do seu corpo, tendo Itadori a estranha e improvável capacidade de controlá-lo. Algo que fará com que a execução que tem sobre os ombros vá ficando em suspenso, dedicando-se de corpo, alma e estômago a uma missão culinária: encontrar os restantes 19 dedos de Sukuna, um demónio que possui quatro braços e duas caras e que, na realidade, é um humano que existiu há mais de mil anos – resumidamente, é ele o Rei das Maldições.
Kugisaki Nobara e Fushiguro Megumi, também eles alunos do 1º ano, vão trocando insultos e mind games com alunos da escola de jujutsu de Quioto, em vésperas de um torneio que promete e muito. Já Gojo Satoru, um professor da escola que não tem os mais velhos em grande conta, acredita que os tempos estão a mudar, e que dentro de uma geração já não bastará a classificação de “nível especial” para deter a onda de má energia que assola o mundo.
No centro deste volume está a descoberta, numa sala de cinema, de três cadáveres de estudantes. Nanami Kento, um feiticeiro de 1º nível para quem os feiticeiros são “uma merda” e que acha que trabalhar numa empresa é outra merda – diz ter escolhido a merda menor -, fica responsável pelas investigações, obrigado a levar consigo Itadori, por quem não sente o mínimo apreço. Uma investigação que se transforma num dilema ético, que irá envolver uma improvável amizade entre Itadori e Yoshino, um puto desgovernado que acabou por tomar como sua um lema de vida de temperaturas frias: “A indiferença é mesmo a virtude a que todos os humanos deveriam aspirar. Não é preciso ser coerente na maneira como se vive. A vida não tem valor nem peso”. Dilemas morais, preocupações éticas, um olhar filosófico sobre a morte e até uma visão alternativa do sistema educativo, num volume com muito sumo para espremer.
“Vou matar-te” (Devir, 2023), o volume 4 de Jujutsu Kaisen, faz-nos acreditar estarmos perante uma versão oriental da escola do Professor Xavier e dos X-Men, num duelo vertiginoso entre Itadori e um espírito amaldiçoado de nome Mahito – que deu cabo da moleirinha de Yoshino, o novo e improvável amigo de Itadori –, onde se trocam bitaites deste calibre: “Afinal, na escala da estupidez, vens logo a seguir aos cretinos que tanto desprezas”. Um insulto que Mahito recebe sem mostrar grande preocupação, preparando já o próximo assalto: “Ao contrário do corpo, a alma pode morrer vezes sem conta”.
O plano de Mahito e do lado mau da força é o de reunir todos os dedos de Sukuna e dar-lhos de presente, incluindo os que foram já colectados pela Escola de Jujutsu, lançando já as pistas para o futuro da série – o vomue 5 está já nas livrarias e o 6º chegará muito em breve. Um volume que, como que fechando o ciclo começado com o anterior, fecha de novo com a pergunta do milhão de euros: “Qual é o teu tipo de mulher?”.
Sem Comentários