“Não sei se te mate, se te beije”. Quem o diz, sentado e de arma bem apontada, é Slick, que deixou Caprice, então Debbie, sete anos atrás no tempo. Ou, dependendo de quem conte a história, Debbie decidiu não esperar por ele, acabando por se tornar namorada – agora noiva – de Rex, o magnata lá do sítio que lhe vai adoçando a carreira, sendo ela a brasa que actua no The Rex Nightclub com o espectáculo “Burlesque”.
“Noir Burlesco” (A Seita/Arte de Autor) – 1º de dois tomos – começa, aliás, com os dois numa dança mortal e muito cinéfila, até que a câmara decide recuar para, já no exterior e sem acesso a câmaras de vigilância, o leitor escutar um ruidoso Blam, ficando a matutar sobre qual dos dois terá ido ao tapete. A história, essa, faz-de depois num recuo ao passado, até ao momento em que Slick, para pagar as dívidas do irmão, faz um trabalhinho para Rex, alguém que fintou Deus e escreveu os seus próprios 10 mandamentos. “O teu dia de descanso, enfia-o pelo cu acima” ou “Matarás por mim” são dois deles.
Slick tem a sua quota parte do sarcasmo, ironia e pelo na venta do Marlowe de Chandler, o que faz com que lhe assentem, quando em vantagem confortável, uns valentes murros nas trombas, ganhando a antipatia de gente como Punch, o primo de Rex, que Rex transforma num saco de pancada feito de esmeradas piadas. E, tal como Marlowe, terá uma relação mais doce do que agri com a polícia, que o quer do seu lado para apanhar um assassino de polícias.
O tempo, porém, parece não ter sido bom conselheiro para qualquer um destes dois amantes adormecidos, e nem o noivado anunciado arrefece este arrebatamento comum que promete acabar mal. Pelo menos até expirar a validade da expressão “amantes, amantes, negócios à parte”.
Marini atira-se a este “Noir Burlesco” com um traço grosso, estendido por vinhetas de tamanho XL, e por um preto e branco que apenas surge, a espaços, incendiado por um fogoso vermelho, ateado por personagens femininas ou em apontamentos como os faróis de um carro.
Para o final está guardado uma espécie de diário gráfico em grande formato, onde Marini mostra ter também uma boa mão para a arquitectura, em páginas que apetecer recortar com muito jeitinho e mandar emoldurar. Esperemos agora pelo 2º e derradeiro volume para ver quem terá sido contemplado com aquele Blam.
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