“Há muito que o zumbido das moscas e os gritos dos sobreviventes suplantaram o som do rufar dos tambores de guerra”. Eis Sarah J. Maas a navegar em modo darkside, quando decide colocar em pausa o lado mais meloso dos seus livros. Aliás, com um pouco menos de esfrega/esfrega, peitorais ao léu e jogos de cintura por cima e por baixo de lençóis lavados, Corte de Espinhos e Rosas seria mesmo uma das mais recomendadas séries de fantasia da modernidade – ainda o é, ainda que seja precisa alguma pachorra para enfrentar aquelas páginas de romance teen.
Depois de um livro dedicado a Rhysand, que revelou ser uma caixinha de surpresas bem jeitosa, “Corte de Asas e Ruína” (Marcador, 2023) é o livro da guerra, depois da muralha ter caído e de Hybern ter ressuscitado o espero e perspicaz Jurian, tendo o Caldeirão, -“que é capaz de rachar o mundo ao meio” – a seu lado, não vá surgir qualquer imprevisto.
Do lado dos bons, Feyre – agora a Grande Senhora da Corte da Noite – continua a sua vida como espia infiltrada, missão que se complica e muito com a entrada em cena de Brannagh e Dagdan, sobrinhos do rei de Hybern, e também de Iantre, que parece ter uma costela arrancada à Sacerdotisa Vermelha da Guerra dos Tronos. O tempo é agora de forjar alianças, num momento em que tudo, mesmo tudo, “faz parte do jogo (…): em quem confiar, quando confiar, que informação trocar”.
Neste terceiro volume, não faltam ases e manilhas atirados com muito estilo para o tabuleiro de jogo por Maas: o Entalhador de Ossos, sobre o qual correm “rumores sobre a sua capacidade de derrotar cem soldados com um único sopro”; o Uroboro, um espelho mágico ainda mais assustador do que o usado pela bruxa da Branca de Neve, sobre o qual se diz que aqueles que nele se olharam “ficaram maluquinhos ou irreparavelmente destruídos e não recuperaram”; ou uma biblioteca sete pisos abaixo da terra, que guarda uma surpresa bem maior do que livros raros. O final, esse, poderia bem encerrar com esmero esta série em modo trilogia – parece ter sido essa a ideia inicial -, mas a verdade é que já há mais dois livros publicados depois deste “Corte de Asas e Ruína”. Veremos, assim que a tradução faça das suas, para onde decidiu caminhar Sarah J. Maas.
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