Uma viagem pelo íntimo de dois seres, pelos confins da sua existência, dá mote à obra “A Fera na Selva” (D. Quixote, 2023), o clássico de Henry James. 120 anos depois, a história de um homem que vive atormentado com a sua “fera” interior está de regresso às livrarias.
Um reencontro inesperado, passado 10 anos, muda a vida de John e May; um segredo é revelado e influencia a vivência de ambos. A relação entre os dois perdurou no tempo. Nunca se casaram, mas também não abriram espaço nas suas vidas para outros relacionamentos. Sentem que algo de maior os uniu e vivem, por isso, focados no passado e naquilo que ditará o seu futuro.
Tão pequeno quanto actual, este livro, contado na terceira pessoa, dá-nos a conhecer as preocupações de John, que vive atormentado com o seu eu interior. Crente de que reside em si uma fera à espera de ser solta, este personagem vive preso nas suas ideias e suposições, como quem olha e nada vê, como quem toca e nada sente. Por outro lado, May é o seu oposto e o seu equilíbrio, o seu elo à vida real e ao presente.
Rico em símbolos e simbologias, “A Fera na Selva” apresenta-nos conflitos mundanos, egoísmos, indecisões e dúvidas. As suas 90 páginas desassossegam qualquer alma, e fazem-nos reflectir acerca da passagem do tempo, das pressões impostas pela sociedade e das nossas próprias exigências perante nós mesmos.
Se, por um lado, a expressão carece de sofisticação literária, por outro parece assentar na perfeição: este livro é de “chorar e pedir por mais”. O fim é triste e inesperado, mas justo e com muito significado.
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