Noutros tempos, muito menos dados ao tacto e nos quais o termo politicamente correcto ainda não havia sido inventado, Elektra seria apresentada como a namorada do Demolidor – ou Daredevil, se mantivermos o nome original. Nascida na Grécia, Elektra – uma criação do genial Stan Lee – foi treinada por ninjas vindos de más famílias, formação que a levou a doutorar-se com distinção no mundo paralelo dos assassinos contratados – a certa altura, foi contratada pelo volumoso Rei do Crime como assassina particular.
Na verdade, a história de Elektra Natchios vai muito além desse episódio que, durante uns bons anos, alimentou as capas das revistas cor-de-rosa do mundo dos super-heróis, até que a visão de ambos sobre a ideia de bem e de mal os levou a uma separação pouco amigável – mas que, no final, resultou numa espécie de história de Pedro e Inês servida aos quadradinhos.
Em “Elektra: Preto, Branco & Sangue” (G. Floy, 2022), o primeiro livro da série dedicado a uma heroína – depois das atenções se terem centrado em Carnificina, Deadpool e Wolverine -, temos uma dúzia de histórias sobre esta estilosa heroína, que Lee nunca quis ressuscitar acreditando que o final trágico era aquele que melhor lhe assentava.
Alvorada Vermelha coloca Elektra entre dois mundos: o dos homens e o dos vampiros; em Não é o Demónio, encontramos – com o picotado Liechensteiniano – o Rei do Crime com as fileiras emagrecidas, tudo graças a um assassínio que deixa o sangue alheio a escorrer mas que mais parece um fantasma; O Caminho Escarlate obriga a escolher entre continuar indefeso ou sujar as mãos; Cortar e Correr dá um passo em falso numa história onde a maternidade é a trama; Vérité tem aquele ar de filme francês a preto e branco, recorrendo a imagens de câmaras de vigilância – e a fitas vermelhas, que vão surgindo pelos intervalos da chuva; Yokai é uma pintura do oriente, desenhada numa aldeia de 423 habitantes, sem diálogos mas com um vislumbre da mística japonesa; Dividida é qualquer coisa como um Fuga Para a Vitória do Manicómio, que troca a fé no alheio pela auto-confiança; Com Uma Paixão traz-nos finalmente o Demolidor, numa história onde Elektra se sente “doente. Feia. Pesada. Tão perdida”. E um bocado neurótica; Armas de Eleição serve-nos o clássico fresquinho disputado entre USA e URSS, com um toque de Mission Impossible; Poderes Além da Compreensão exala o calor do Motoqueiro Fantasma, capaz de lançar máximas a la Principezinho como esta: “Sou aquilo que pensas representar, mas nunca vais compreender”; Assassina viaja, à boleia de ilustrações incríveis, ao Japão feudal, onde é a ilusão quem reina; Encontro é isso mesmo: um encontro com a morte, num poema com o estilo de uma fanzine.
Para o final, como já manda a tradição, está guardada uma galeria de capas, num livro que serve de aperitivo para a descoberta da história desta trágica heroína – ou não fosse ela de terras gregas.
1 Commentário
Uma correção, Elektra não foi criada por Lee e sim por Frank Miller, quando esse assumiu os roteiros de Demolidor!! Seria bom pesquisar um pouco antes de fazer essa resenha, que pra mim foi bem superficial !!