Nascida em Kiruna (Suécia) no ano de 1966, Åsa Larsson foi, durante uma pequena vida, advogada de direito fiscal, antes de decidir enveredar pelo estreito caminho literário. “Aurora Boreal”, romance publicado em 2003, valeu-lhe desde logo o Prémio de Melhor Romance Policial de Estreia – atribuído pela Academia Sueca de Escritores -, transformando-a, com o tempo, num dos nomes mais reputados do hemisfério nórdico no que ao policial diz respeito. “Os Pecados dos Nossos Pais” (Planeta, 2022), livro que coleccionou uma série de prémios e que chega 18 anos depois da estreia, é um policial habitado por personagens-fantasma, cada uma delas a braços com um passado que deixou marcas e ao qual regressarão para acertar contas, depois da descoberta de um assassinato com mais de seis décadas.
O livro tem lugar em Kiruna, curiosamente a cidade onde nasceu Larsson, mas que aqui será obrigada a mudar de geografia, tudo para permitir a expansão da mina que a (quase) todos alimenta Larsson partilha também com Rebecka Martisson, uma das protagonistas, essa imersão no Direito Fiscal. Será Rebecka a liderar a investigação a um assassínio ocorrido há mais de sessenta anos, após a descoberta do cadáver do pai do campeão olímpico sueco de boxe Borje Strom, que esteve desaparecido desde 1962 sem deixar rasto, e que é encontrado no congelador da casa do falecido Henry Pekkari, um tipo que fugiu do mundo e foi para longe morrer devagar e quase sempre envolto numa bruma alcóolica.
Mais do que a espessura da trama, “Os Pecados dos Nossos Pais” vale pela densidade humana construída a partir de uma insólita galeria de personagens: uma enfermeira reformada, ressentida com a vida e com recentes tendências suicidas; um campeão olímpico de boxe, com bom jogo de punhos mas pouco jogo de cintura para as mulheres; uma investigadora arrumada na prateleira, que se vê obrigada a voltar à acção; ou um rei da fruta que parece ter mais tentáculos que os de um polvo.
Pelo caminho atravessam-se os temas da prostituição, da máfia russa ou do crime organizado, à medida que se vão amontoando os corpos encontrados em arcas congeladoras, na neve ou no conforto do lar. Uma história de reinvenção que, a ter uma máxima, seria talvez esta: “Um momento de cada vez”. Åsa Larsson está em boa forma.
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