Com edição agendada para dia 26 deste mês, “Peregrino” (Topseller, 2015) tem sido um motivo de grande rebuliço no que diz respeito ao universo dos thrillers. Talvez por, ao contrário da maior parte do que normalmente se escreve neste género, aliar o ritmo e a velocidade da acção a uma trama bem urdida que mantém, lado a lado, uma história de contornos policiais e um thriller que explora questões políticas muito relevantes nos dias que correm.
Num apartamento com cortinas puídas, móveis baratos e uma mala cheia de anfetaminas e outras drogas recreativas, é encontrado o corpo de uma rapariga, com a garganta cortada e a cara para baixo numa banheira de ácido sulfúrico. É desta forma que Terry Hayes lança a trama, comparando o acontecimento a uma das mais famosas personagens cantadas pelos Beatles: “Eleanor Rigby, uma mulher que usava um rosto que guardava num frasco junto à porta.”
Apesar de considerar ter-se tratado de um homicídio notável, o narrador – “…um estranho com um casaco pendurado ao ombro e um passado bastante pesado” – acredita na primeira regra da ciência forense, base para o princípio da troca de Locard: “Todo o contacto entre o perpretador e o local de crime deixa um rasto”. O que, neste caso, acaba por ser um lápis de olhos encontrado num caixote de lixo, o que leva a concluir que o crime hediondo terá sido cometido por uma mulher.
A história, porém, não começa aqui mas muitos anos antes, quando um homem é decapitado em praça pública sob os olhares inertes da multidão e o sol escaldante numa qualquer cidade da Arábia Saudita. É nesse momento que nasce a lenda do Serraceno, um invisível terrorista capaz de abater helicópteros com uma bazooka manhosa, mudar de identidade como quem muda de camisa e passar anos a planear missões que visam destruir os Estados Unidos da América.
Caberá ao narrador, também ele um mestre do disfarce, a missão de impedir uma catástrofe de proporções épicas. Um homem, que aos 29 anos, se tornou o mais jovem Cavaleiro Azul – cargo que está para lá do 007 em termos de prestígio -, para mais tarde cortar todas as amarras com a vida da espionagem. Pelo menos até o mundo exigir o seu regresso, que será registado com um nome que lhe assenta que nem uma luva: Peregrino.
Com muitas voltas e ainda mais reviravoltas, “”Peregrino” é um thriller com uma boa dose de literatura, onde se encontram personagens bem desenhadas, uma acção de amplitude cinematográfica e uma trama que se devora num ápice. E que, como quem não quer a coisa, deixa a porta aberta para uma nova peregrinação. O melhor mesmo é deixar os sapatos de caminhada à mão se semear.
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