Por altura da saída de “Corte de Espinhos e Rosas”, o primeiro de uma série de fantasia assinada por Sarah J. Maas, festejámos o não cumprir, pelo menos à risca ou à larga, das promessas de um romance tórrido ou momentos sexy avançadas na capa. Pois bem, chegados a “Corte de Névoa e Fúria” (Marcador, 2022) a verdade é que a coisa começa a aquecer debaixo dos cobertores. Ainda assim, e mesmo com o aumentar da temperatura e uma estrutura narrativa em tudo semelhante à do primeiro livro, esta Corte continua a ser um lugar muito bem frequentado, e qualquer convite que vos chegue à mão para dela fazerem parte não é mesmo para deitar fora. Ainda para mais, este segundo livro tem no centro a personagem que mais fascínio havia provocado no arranque: Rhysand, o Grande Senhor da temível Corte da Noite.
Estamos em tempos de pós-Amarantha, acompanhando o regresso de Feyre, agora uma Fada Suprema, à Corte da Primavera, após ter conseguido arrancar Tamlin – e a si própria – de uma morte certa. Porém, quando se esperava uma lua de mel com direito a prolongamento e grandes penalidades, a relação entre Tamlin e Feyre começa a azedar, muito à custa de um protectorismo que ganha contornos de um confinamento imposto à força. Ou, também, motivado por questões políticas, numa Corte que parece ter recuado aos tempos do feudalismo para exigir barba, cabelo e ossinhos aos seus súbditos, apenas para mostrar que o respeitinho continua a ser muito bonito.
Aproveitando uma nesga de oportunidade, à boleia do pacto algo perverso assinado com Rhysand, Feyre deixa a Primavera para trás, mergulhando na Corte de Rhysand e do seu encantador círculo íntimo, formado por Mor – “quem eu chamo quando os exércitos fracassarem e o Casian e o Azriel estiverem mortos” -, Cassian – “o melhor guerreiro que encontrei em qualquer corte” -, Azriel – com uma infância verdadeiramente cruel – e Amren – “minha conselheira política, biblioteca ambulante e executora do trabalho sujo”. Mas é Rhysand quem mais brilha neste segundo volume, enquanto Feyre vai descobrindo aos poucos os seus muitos poderes, relembrando a certa altura o que foi morrer: “Foi como nadar em vinho espumante”.
Com o Rei Hybern a milímetros da guerra total, não faltam geografias e missões desafiantes, como visitar uma prisão com portões feitos de ossos, onde se fala “a língua das trevas, da pedra”, descobrir um livro raro dividido em duas metades ou tentar passar a perna à cega mas muito desperta tecelã, habitante de uma casa a fazer lembrar a aquitectura dos contos dos Grimm. O final, uma vez mais, será capaz de deixar o leitor a salivar, não conseguindo esquecer a imagem de uma raposa a entrar, disfarçada a preceito, num galinheiro. O melhor de tudo é que “Corte de Asas e Ruína”, o terceiro capítulo da série, está já disponível nas livrarias.
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