Bug, que teve o primeiro número publicado originalmente em 2017 com o prestigiado selo da Casterman, é a mais recente série assinada – e desenhada – pelo veterano Enki Bilal, que respira – e transpira – ficção científica por todos os poros. Série que conta, até ao momento, com três volumes, todos eles já publicados em Portugal com o selo da Arte de Autor.
No anterior volume, vimos os topos dos edifícios tornarem-se refúgios para os que conseguem lá chegar e instalar-se. Quanto ao bug, parece ser algo que fará com que o digital se torne, muito rapidamente, num mito urbano para as gerações vindouras. Conseguirá Obb, o homem mais procurado do mundo, encontrar-se a si próprio, salvar a filha e fazer com que o planeta não vá desta para melhor? A interrogação ficou a pairar, mas ainda não será neste “Bug 3” (Arte de Autor, 2022) que teremos a resposta completa.
O ano é, agora, 2042. Okto Dusapin, neto de Eliz Desplantes – uma reputada historiadora de 112 anos -, dá o ponto de partida para este terceiro capítulo de Bug, por entre estranhas tatuagens e aquilo que poderia ser uma conversa literária entre Estaline e Hitler. O nuclear está tão descontrolado que americanos e russos trabalham juntos. Todos eles e outros tantos querem apenas uma coisa: que Kameron Obb se chegue à frente para repor a ordem do mundo.
Enki Bilal continua a fazer-nos mergulhar num turbilhão político com muita esquizofrenia pelo meio, seja com Nataly-Ann, que segundo Obb é adepta de uma esquerda sectária e brutal, ou Irina-Baddel, que parece ter enveredado por um “neomarxismo positivo e sereno”, pretendendo trazer de volta o czarismo – onde é que nós já vimos isto? As ideologias básicas do século XX estão de regresso, assim como os pesadelos de Obb: “Tomar um banho de sangue empalado numa foice com a cabeça despedaçada por um martelo, na companhia de Lenine e Trotski”.
Em tempos onde o azul parece ser sinónimo de imunidade – contra o quê, resta tentar adivinhar -, os implantes continuam a ser uma chatice, mas chatice maior é sem dúvida a nebulosidade azul de Marte que, lentamente, se aproxima da Terra. Se estiverem numa de experiência cósmica com uma costela política em formato BD, Bug é o mais próximo que estarão de tomar um ácido.
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