Nos tempos correntes, mais do que em qualquer outro ponto da linha temporal, muitos são os romances sobre a idade adulta, a maturidade ou a dor do amor juvenil. Neste universo literário, 2022 viu chegar às prateleiras nacionais um romance tremendo intitulado “Nadar no Escuro” (Clube do Autor, 2022), assinado por Tomasz Jedrowski – um autor alemão filho de pais polacos.
“Há coisas que não se conseguem apagar só com o silêncio”. É esta a inquietação que leva Ludwik Glowacki, o narrador, a contar “a minha verdade, para o bem e para o mal”, num regresso aos anos (19)80 e ao outro lado da Cortina de Ferro.
Peça central neste romance é Janusz, o grande amor da vida de Glowacki, que este conhece nos exames finais da faculdade e com quem passa um verão idílico, onde entre muitos mergulhos e a leitura de livros banidos consegue estilhaçar alguma da “vergonha, pesada e viva”, sentida desde jovem por ser homossexual. O regresso, porém, a um país católico e comunista, onde o escrutínio público se faz sentir a cada olhar, não será fácil.
O grande triunfo de “Nadar no Escuro” é acrescentar, a esta história de amor e perda, uma dimensão verdadeiramente política, onde, através de dois jovens adultos, conhecemos duas formas distintas de olhar para um regime totalitário e opressor, num teste à ética e a outros valores quando colocados do – chamemos-lhe assim – lado vencedor.
Tomasz Jedrowski conduz-nos numa viagem comovente através de um país desigual, dando-nos a conhecer uma história de amor que, ao contrário de muitas outras histórias de amor, se vê posta em causa por uma questão maior: os valores. E isto, caros leitores, não é coisa pouca. Temos clássico para os anos vindouros.
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