“Esta história, inspirada em factos reais, desenrola-se em 1832, em Canterbury, uma pequena cidade tranquila do Connecticut, trinta anos antes da abolição da escravatura, na parte norte dos Estados Unidos onde já fora abolida. Aqui, os negros são «livres», mas não têm nenhum direito de cidadania. Negros, aliás, há muito poucos. E a maioria branca que ali vive pensa que ainda assim são demais…”
Está feita a apresentação de “Branco em Redor” (Arte de Autor, 2022), álbum de banda desenhada que nos transporta até ao ano de 183 -, e a uma geografia americana muito perto de Boston. Lugar onde, anos antes, Nat Turner levara a cabo uma sangrenta revolta de escravos, fracassada mas que matou 60 pessoas. Em troca, foram tomadas “medidas” como enforcamentos e linchamentos, que resultaram na morte de mais de 3000 negros.
É também neste lugar, onde se passeia um miúdo dado à rebeldia e à traquinice, normalmente semi-vestido e que vai recitando de cabeça trechos de Nat Turner, que existe uma pequena escola para jovens raparigas. Uma instituição que acolhe cerca de vinte alunas internas e à qual ninguém parece prestar grande atenção, mas só até a professora decidir receber uma aluna negra, tomando depois a decisão de receber mais umas quantas. Uma decisão que vai acordar a América branca dentro de cada habitante, mostrando que há sentimentos difíceis de apagar mesmo com as voltas e reviravoltas da lei.
As ilustrações, autênticas pinturas – da autoria de Stéphane Fert -, retratam de forma sublime a zanga, a revolta e o espírito da intolerância, num livro que nos mostra que o racismo está presente, mesmo que dissimulado ou adormecido, para lá das quatro paredes. Desta e de outras escolas: “Nenhum dia é «penoso» nesta escola. É o mundo inteiro que é uma provação”.
Para o final fica guardado um posfácio, com a tutoria do Prudence Crandall Museum, assinado pela Conservadora do Museu Joanie DiMartino. Uma verdadeira lição de história que nos conta a viagem fabulosa de várias mulheres dedicadas a mudar o mundo – incluindo a desta mulher branca, que abriu uma escola apenas para meninas negras em tempos difíceis.
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