Segundo a Teoria da Relatividade de Einstein, a velocidade da luz é a maior velocidade possível. Trata-se de uma constante universal e independente do movimento relativo entre o observador e a fonte de luz. Afirmam os físicos que a velocidade de propagação da luz no vazio é de 299 792 458 m/s, aproximadamente 3 x 108 m/s, ou, como escreve Noiserv, “três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo” (Edição de Autor, 2021).
David Santos, mais conhecido por Noiserv, é figura omnipresente na cena musical alternativa portuguesa. Chamam-lhe o homem-orquestra pela mestria com que, sozinho, domina a parafernália instrumental nos seus concertos, proporcionando aos espectadores uma experiência inigualável em cada uma das suas actuações ao vivo. Tendo lançado uma série de sucessos discográficos, entre os quais se destacam “One Hundred Miles from Thoughtlessness”, de 2008, e “Uma Palavra Começada Por N”, de 2020, o multi-instrumentista atinge agora outro marco na sua carreira, lançando-se no mundo dos livros.
“três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo”, a estreia literária de Noiserv, é um objecto singular, um pequeno livro/caixinha de surpresas cuja capa de cartão e design sofisticado convidam os leitores a explorar cada um dos seus coloridos detalhes. No interior encontramos uma série de curtas frases, números e folhas recortadas, que, ao virar de cada página, desvendam substantivos soltos que dão brilho e significado a este breve conto.
A história baseia-se num “conjunto de pequenos instantes”, em que três luzes se acendem em simultâneo, e o processo narrativo consiste num jogo de palavras, formas e cores, como se de um espectáculo ao vivo se tratasse. Dentro da melodia de cada frase, consegue-se descobrir a sonoridade distinta e os ruídos musicados que Noiserv encapsula no texto, tal como faz nas suas canções.
“três-vezes-dez-elevado-a-oito-metros-por-segundo”, o curioso livro que o cantautor recentemente transpôs também para formato digital (audiobook), representa uma fuga à velha tradição livresca, embelezando, por breves momentos, a rotina cultural das nossas vidas, que já por si correm à velocidade da luz.
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