Fruto da colaboração entre a equipa-maravilha constituída por Brian K.Vaughan – responsável por essa série maior chamada Saga -, Cliff Chiang – o lendário artista da Mulher-Maravilha – e Matt Wilson – encarregue de dar cor ao embrulho dos outros dois -, Paper Girls é uma série bad ass, lugar de dilemas juvenis, violência e sangue, a bela da maternidade, linhas temporais, monstros domesticados ou adolescentes a tornarem-se mulheres, num livro com um toque feminista que nos relembra um tempo bem menos tecnológico e intenso que o actual.
Com o selo da Devir, vieram parar-nos às mãos os volumes 5 e 6, ambos publicados em formato paperback, na recta final de 2021, o que nos permitiu concluir a leitura desta série onde mergulhamos no imaginário dos anos oitenta: à boleia do espírito sci-fi, a reboque de monstros incríveis e conduzidos por um grupo raparigas que nos faz olhar para questões como o sentimento de pertença, a procura da identidade e a dificuldade que é ser adulto nestes tempos modernos muito dados à estranheza.
No volume 5, Mac, Erin, Tiffany e KJ dão por si numa versão alternativa e futurística de Cleveland, no ano 2171, mas nem tudo parece ser mau. Parece que, por esta altura, já terá sido descoberta a cura para o cancro, o que poderão ser boas notícias para Mac, que continua a não dar grande importância à coisa e a viver cada dia como se fosse o último. Afinal, “morremos quando tem de ser”.
Descobrimos clones maléficos, bombas em demasia e um final inesperado com um certo toque de Halloween. E, também, que isto de atravessar o espaço/tempo não é para quem quer, mas para quem está consagrado pela Watch, gerida pelo líder Jahpo Thãpã. A banda sonora está entregue aos versos usados e não usados da canção “As Time Goes By” (1931), de Herman Upfeld, que fez parte da banda sonora do intemporal Casablanca.
Chegamos então ao sexto e derradeiro volume, e quem diria que a derradeira jornada teria um dedo de Michael Jackson? “Se queres voltas para casa, tens de fazer o Moonwalk, compreendes?”. Antes disso, porém, cada uma das raparigas vê-se atirada para uma época diferente – numa delas há uma cassete do “Sign O The Times”, de Prince. Sem telefone ou mail, descobre-se uma alternativa para comunicar entre linhas temporais diferentes: os sonhos.
Embalados por ensinamentos arrancados ao Manual da Associação Americana de Distribuidores de Jornais, publicado em 1932, juntamo-nos a este quarteto na sua derradeira jornada onde, sentados no selim de uma bicicleta, retiramos um importante ensinamento. Neste mundo incerto mas de fim previsível, o que permanece talvez seja isto: a amizade verdadeira.
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