“Os autores gostariam de advertir para o facto de que certos acontecimentos do livro Lazarus e alguns pormenores de O Homem da Areia serão revelados em A Aranha”. O aviso amigo surge no início de “A Aranha” (Porto Editora, 2022), o mais recente capítulo da saga policial que veio do frio assinada por Lars Kepler, pseudónimo escolhido pela dupla sueca Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. De facto, para aqueles que decidirem mergulhar nesta série protagonizada por Joona Linna e Saga Bauer, o melhor mesmo é começarem por “O Hipnotista”, livro que serve de cartão-de-visita a este universo para o qual é necessário algum estômago: policiais atravessados pelo negrume onde, mais do que o despontar da poesia ou o deslumbramento literário, se pretende tirar uma radiografia de corpo inteiro ao mal.
Três anos antes dos acontecimentos de “A Aranha”, Saga Bauer recebeu uma mensagem ameaçadora, acompanhada de uma arma com nove balas brancas – uma delas destinada a Joona Linna. Saga e Joona ainda olharam juntos para o postal onde a ameaça vinha escrita mas, com o tempo, a falta de concretização da ameaça e o reajustamento de prioridades, a coisa acabou esquecido. Até que um saco com um corpo dissolvido quase por completo aparece amarrado a uma árvore em Kapellskar.
Em três tempos, o que poderia não passar de uma morte ocasional transforma-se em mais uma caça a um assassino em série, onde cada crime surge precedido pela entrega de uma embalagem onde se encontra um enigma e uma figura de chumbo que, se decifrados, poderão impedir esta série de crimes, que têm como objectivo final chegar a um alvo específico: Joona Lina. Quanto a Saga Bauer, o leitor é convidado a com ela regressar ao passado, e aos muitos fantasmas que foram sendo guardados dentro do armário. E apenas Saga parece ter jogo de cintura para salvar Joona da morte certa.
Sempre com a sombra de Jurek Walker a pairar como um mau agouro, Lars Kepler constrói mais um livro com o embalo de uma montanha-russa, à volta de duas personagens que, algures pelo caminho, parecem ter perdido a capacidade de amar. Mesmo que possa ser desta que o leitor deslinde o caso antes de virar as últimas páginas, a viagem por esta teia vale bem a pena, ficando a porta aberta para um volume que promete apenas isto: escuridão.
Sem Comentários