Parece incrível, mas parece que há tempos havia um homem que tinha o dom de cuspir uma pedra por cada problema que tinha na sua vida. Depois, pegava nela, atava-lhe uma pequena corda e pedurava-a às costas, onde ia fazer companhia a outras pedras com diferentes tamanhos, formas e cores. Quando o problema deixava de o ser, a corda definhava e a pedra caía ao chão, voltando novamente a ser uma pedra entre as outras.
O homem era bem conhecido de toda a gente, e muitos invejavam o seu dom. Porém, quando se passaram muitas tardes sem que o homem aparecesse, as pessoas bateram à porta de sua casa e entraram. Lá dentro encontraram-no deitado na cama, queixando-se de dores nas costas, dizendo que ia morrer entre as pedras amarradas às costas. Tudo parecia perdido, sobretudo quando nem o médico nem o padre conseguiram curar este estranho caso. Até que, quando todos desistiram, um menino entrou no quarto e falou.
Nascido em 1973, Marco Taylor foi director de um festival internacional de cinema de animação e dirigente associativo, leccionando nos dias de hoje as disciplinas de Educação Visual e Educação Tecnológica algures no litoral alentejano. Em “O homem que carregava pedras” (Edição de autor, 2015), com texto e ilustrações suas, oferece-nos uma história de certa forma críptica sobre a vida e a morte, questionando a forma que temos de nos relacionar uns com os outros e, se quiserem, até que ponto a ciência e a religião serão ou não a pedra de toque para curar os males que se atravessam no nosso caminho. Ou, de outro ângulo, se serão a melhor companhia quando sabemos que o fim está já (demasiado) próximo.
As ilustrações, carregadas de cor, abusando das variações cromáticas e com a benção dos lápis de cera, retratam na perfeição esse encontro com a morte, mas sobretudo a forma em como se escolhe a vida como destino final. O final reserva ainda um pequeno álbum fotográfico, feito de alegrias, ausências e fantasmas, que são também parte das vidas de todos nós.
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