Não há como escapar a dizer o óbvio. Ascender, a série criada pela dupla Jeff Lemire (texto) e Dustin Nguyen (arte), continua a ser uma das obrigatórias para os amantes de fantasia, que aqui encontrarão qualquer coisa como uma space opera semi-virtual servida aos quadradinhos. Uma série que, um pouco à moda televisiva, começou com a temporada Descender, tendo dado depois origem a esta sequela intitulada Ascender, que arrancou dez anos depois de um quase fim do mundo, no momento em que o desaparecimento das máquinas abriu espaço para a magia. “O Mago Digital” (G. Floy, 2022) é o terceiro volume desta nova temporada, e nele continuamos a acompanhar a vida de personagens que, pode dizer-se, já são como que da família.
Neste terceiro capítulo, destaque para a história incrível de como Mizerd – o feiticeiro – e Broca – o robot assassino – se encontraram, unindo forças para escapar ao apocalipse trazido pelas máquinas ou à “gaita dos vampiros”, primeiro em Woch, mais tarde em Sampson e, agora, viajando até encontrarem Mila, a criança prodígio. O seu destino é Pheges, um planeta que se julga estar assombrado por fantasmas – e que reserva uma surpresa das grandes.
Broca que, é preciso dizê-lo, melhorou e muito o seu vocabulário de cinco palavras, conseguindo já dizer frases como esta: “O Broca não gosta do planeta gasoso. O Broca não gosta de robôs com carne. Hrrmm… O Broca é uma grande moca. O Broca não gosta de ser venerado. O Broca gosta de ver o pessoal borrado”.
Numa outra geografia, Andy continua às voltas com o passado, tentando ressuscitar Effie, o seu grande amor, do estado de não-morte em que se encontra. Para isso terá a ajuda de Kantos e das suas lâminas sequiosas, para quem Effie é “uma anomalia nos dias que correm. Carne e máquina…”.
Como sempre, são muitas as perguntas que se vão fazendo pelo caminho: Quem será o mago que protege os rebeldes do CGU? E onde está escondida a fonte da magia? Haja ou não resposta, uma coisa parece certa. O futuro vai jogar-se em Dirishu-6, a colónia mineira onde o Tim-21 foi criado.
Uma vez mais, o trabalho de Dustin Nguyen é de cortar a respiração, como que criando vários livros dentro de um só. A par do traço distintivo da história principal há, por exemplo, derivações magníficas, como desenhar a história de Andy e Effie num carregado preto e branco, como se nos atirasse para dentro de um dos círculos do Inferno. Quanto aos extras, desta vez os desenhos dão lugar ao texto puro e duro, mostrando partes do guião de Lemire antes de Nguyen meter mãos aos lápis e pincéis. Venha o próximo.
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