É sempre um prazer ver um profissional em topo de forma a trabalhar, seja em que área for. “O Cavalo de Sol” (Porto Editora, 2022 – nova edição) de Teolinda Gersão, mostra exactamente isso: uma escritora na plenitude dos seus poderes, conduzindo a narrativa com mão firme e segura.
Originalmente publicado em 1989, o romance, vencedor do Prémio de Ficção do PEN Clube, centra-se na relação entre Jerónimo e Vitória, primos que, tendo crescido juntos, estão agora destinados a casar-se um com o outro. Mas Jerónimo vive um segredo: para ele, o casamento só servirá para aplacar a pressão da família e das normas sociais. A sociedade fechada e tacanha do Norte de Portugal em 1923 nunca iria compreender a sua homossexualidade.
Há uma distância que o separa de Vitória, a quem vê como um objecto belo mas inalcançável. Por seu lado, a jovem apaixona-se pelo filho dos caseiros, Amaro, embora pertençam desde sempre a mundos diferentes.
A prosa de Teolinda Gersão é de uma sensibilidade fabulosa. Tudo é sugerido com simplicidade, parcimónia e economia: as palavras volteiam, elegantes, pintando quadros e metáforas, enquanto conferem carne e osso a uma história cheia de dualidades, oposições e contrastes. Corre poesia em todas as páginas – há melancolia, paixão, intensidade e morte, e há também um sentido de humor que espreita nos momentos mais improváveis.
É um romance muito cinemático, um filme de época à espera de acontecer. Ao mesmo tempo retrata uma certa burguesia rural, quase aristocrática, uma espécie de Downton Abbey transplantada para Trás-os-Montes, com criadas velhacas, crianças enjeitadas e muitas lições de equitação.
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