É, de entre os muitos títulos publicados com o selo da editora Arte de Autor, uma recomendação obrigatória. Resultado da parceria entre Zidrou (argumento) e Jordi Lafebre (arte), Verões Felizes é uma série de espírito retro que assenta nas quase sempre instáveis fundações e dinâmicas familiares, feitas de muito pragmatismo, imaginação, amor e zanga – da vida verdadeira. Lançada originalmente pela editora parisiense Dargaud, a série tem sido publicada em Portugal reunindo dois volumes em cada álbum de capa dura.
“Verões Felizes 2: Menina Esterel + O Repouso do Guerreiro” (Arte de Autor, 2020) situa-se em duas geografias temporais distintas: 1962 e 1980. Em Menina Esterel, descobrimos Pierre Faldérault, mais conhecido por Pif, a tentar vender, já em idade avançada, a sua 4L de 1962, com 6 janelas, 27 cavalos e 747 cm3. Uma venda que serve para recuarmos ao ano de 1962, quando Pierre e Madô vão de férias com os filhos e os pais de Madô – a intragável Yvette e o bonacheirão Henry -, numa viagem que tem mesmo tudo para correr mal. Umas férias onde, por culpa de Yvette, o improviso e a espontaneidade se vêm chutados para canto, seguindo antes a batuta do guia Michelin e a troca da tenda por hotéis e dos piqueniques por restaurantes estrelados. Afinal, “o que a Yvette quer… Deus quer”. Mas tudo está bem quando acaba bem, sendo aqui que iremos assistir ao nascimento de uma tradição que a família irá manter no regresso das férias, e que envolve uma roulote à beira da estrada.
O Repouso do Guerreiro dá um salto até ao ano de 1980, onde Pif está inexplicavelmente a tempo e horas de entregar a nova série G.I Girl, tendo ainda tempo para dar conselhos ao jovem desenhador Benoit: “Não ouças os conselhos dos outros, meu caro Benoit. E menos ainda os dos editores. Trace o seu próprio caminho. Como digo sempre: se é para fazer merda, mais vale que saia do meu cu”.
Julie, por esta altura, estuda Direito. Nicole já namora à séria, e o namorado, de ricas famílias, vai juntar-se a eles nas férias. Chama-se Jean-Manu, e é incapaz de, entre outras coisas, cortar um pepino ou estrelar um ovo. Madô está à espera de dar à luz um casal de gémeos, e decidiram comprar uma moradia chave na mão a 800 Km, um impulso que os levará a tornarem-se arquitectos de verão. Se há um lema neste volume é claramente este: nunca aceitar a derrota.
“Verões Felizes 3: A Fuga + As Giestas” (Arte de Autor, 2021) faz um duplo mergulho nos anos 1970, primeiro indo até 1979, ano em que os Pink Floyd deram todas as cartas do baralho com The Wall, depois recuando até ao início da década, aqui ao ritmo de Mungo Jerry e do tema “In The Summertime”.
Em A Fuga assistimos, qual prova de estafeta dos Olímpicos, à passagem da pasta Zagor para as mãos de PIF, com o senhor Garin hospitalizado e já sem capacidades para o desenho. Louis, o filho de Pif e Madô, economizou para ir a Londres ver os Pink Floyd, mas não está fácil convencer os pais. Um livro que termina em grande, com uma história escrita e desenhada por Paulette, que parece querer seguir as pisadas do pai.
Quanto a As Giestas, leva-nos até 1970, quando por causa de um acidente a família se vê obrigada a passar umas férias inesperadas num quinta. Um álbum que se debruça sobre o preconceito em relação à homossexualidade e que mantém o espírito que vai animando esta série: fazer da nostalgia um trampolim para o tempo presente.
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